Rumo a Tóquio, pira olímpica vai cruzar mais de 850 cidades japonesas
De Toyohashi (Japão)
A 127 dias dos Jogos de Tóquio de 2020, a chama olímpica foi entregue pelos gregos aos japoneses na manhã desta quinta (19), a portas fechadas no estádio de Atenas, marco do início dos Jogos Olímpicos na era moderna, de 1896.
Amanhã a pira deve desembarcar na base da Força Aérea do Japão na cidade de Higashi Matsushima, na província de Miyagi.
No arquipélago asiático, onde foram registrados mais de 1.500 casos de Sars-Cov-2 (incluindo os casos do cruzeiro Diamond Princess), a tocha teoricamente passará pelas mãos de 10 mil “mensageiros” olímpicos a partir de 26 de março, percorrendo 859 cidades das 47 províncias japonesas ao longo de 121 dias, culminando com a cerimônia da abertura da Olimpíada, marcada para 24 de julho até segunda ordem.
Se nos Jogos de 2016 o público se acotovelava para ver a tocha, escoltada por cordões humanos ao cruzar 26 mil km e 325 cidades até chegar no Rio, Tóquio precisou instaurar outros protocolos.
Forças-tarefas de cada província ainda vão divulgar detalhes sobre a passagem da tocha (incluindo se os eventos sequer serão inteiramente abertos ao público). Segundo informe da assessoria de imprensa da Tóquio-2020, os anúncios serão feitos no mínimo sete dias antes de cada parada.
“As situações estão mudando de hora em hora”, abreviou o diretor executivo Toshiro Muto. Até agora, organizadores estão desencorajando a presença de fãs nas passagens da tocha no mínimo neste mês, em Fukushima, Tochigi e Gunma.
Entretanto, no embalo de “não há necessidade de decisões drásticas”, expressão do comunicado de 17 de março do Comitê Olímpico Internacional, Muto pediu para “evitar multidões” no percurso posterior, mas não definiu o que compreende por multidões, um número máximo de espectadores ou uma margem para garantir a segurança de todos.
“Não queremos que as pessoas pensem que é um pedido absoluto de abstenção. Portanto, basicamente depende da sua interpretação”, disse à imprensa internacional nesta terça.
Já foram alterados eventos e exibições especiais pré-revezamento entre 20 e 25 de março, no trajeto entre Miyagi, Iwate e Fukushima, as três províncias atingidas pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear de 2011, que inspiram o slogan “jogos da reconstrução” da Tóquio-2020.
Símbolo olímpico, a chama remete à lenda do titã Prometeu, que contrariou o poderoso Zeus e roubou o fogo dos deuses para dá-los a nós, meros mortais.
Na Grécia antiga, mensageiros cruzavam cidades para anunciar os torneios e a trégua olímpica, que era capaz de interromper impasses e conflitos. Desde os Jogos de Berlim de 1936, atletas se revezam na condução da pira de Olímpia, berço dos primeiros Jogos Olímpicos, rumo aos anfitriões da vez.
Além de atletas, ex-atletas, anônimos e personalidades passaram a incorporar o tour da tocha, que já se aventurou a cavalo e camelo, a bordo de aviões, navios, barco-dragão (de Hong Kong, nos Jogos de Pequim, em 2008) e até nave espacial (a russa Soyuz, nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014).
“Hope lights our way” (“esperança ilumina nosso caminho”, em tradução livre) é o mote da trajetória da tocha, cujo design foi inspirado pelas simbólicas cerejeiras, rumo a Tóquio. Mas, no meio do caminho, há um vírus. Até agora, sem sinal de trégua olímpica.