Anticlímax, compreensão e memes marcam Tóquio-2020, adiada para 2021

De Toyohashi (Japão)

É oficial. Depois de dias quicando, o Comitê Olímpico Internacional cravou: os Jogos Olímpicos de Tóquio ficaram para 2021.

É a primeira vez na história olímpica moderna que uma edição dos Jogos muda para outro ano –três foram canceladas (1916, 1940 e 1944), devido às Guerras Mundiais.

Além das pressões internacionais, de federações de atletas, jornalistas e políticos, o adiamento era esperado no Japão: 69,9% dos japoneses ouvidos pela enquete da agência Kyodo, no início do mês, não contavam com que a Olimpíada ocorresse de fato neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus.

Diante do anticlímax, apesar de certo desapontamento, o clima predominante é de compreensão e manifestações de apoio (e até de alívio) na imprensa e na internet.

Organizadores da Tóquio-2020 (ou Tóquio-2021, se decidirem atualizar o título oficial dos jogos) vão se reunir no dia 30, na Japan Sport Olympic Square, o QG administrativo na capital japonesa, para discutir os próximos passos.

É incerto se os Jogos serão rebatizados, visto que a marca foi consolidada, junto a patrocinadores, produtos e público desde a escolha da capital japonesa como sede, em setembro de 2013. Mas já surgiram memes como o cartaz carimbado indicando 2021 (aqui, quando se rasura um documento oficial, é preciso destacar a errata com um carimbo pessoal, o “inkan”).

Outros publicaram fotos relacionadas à instalação de arte “Tokyo 2021”, promovida pela construtora Toda Building, que esteve em cartaz até outubro de 2019 –e que ainda detém o domínio tokyo2021.jp.

Datas, contratos, ingressos, tudo deverá ser rearranjado para o novo e indefinido calendário, inclusive o destino das instalações, já prontas, e da tocha olímpica, que está no território japonês, mas não vai mais cruzar o país a partir do dia 26.

“Tóquio-2020 pode ser a luz no fim deste túnel escuro que todos nós estamos passando juntos agora. E todos nós queremos ver a chama olímpica como a luz no final deste túnel”, declarou o dirigente alemão Thomas Bach, presidente do COI, reiterando expressões presentes na carta dirigida dias antes aos atletas olímpicos.

É difícil dizer se a metáfora é bem-vinda no momento. No último fim de semana, estendido pelo feriado de sexta-feira (20), o marco do início da primavera, mais de 50 mil pessoas se enfileiraram na estação de trem de Sendai, na província de Miyagi, para ver a pira olímpica. A aglomeração acendeu o alerta amarelo no país, que registrou outras multidões, embaladas pela atmosfera primaveril e as primeiras flores de cerejeiras.

Terça-feira (24) foi um dia decisivo. Além do anúncio do adiamento da Olimpíada e da repercussão de relatos de aglomerações arquipélago adentro, a data marcou a alta de 17 novas infecções do coronavírus em Tóquio. No fim do dia seguinte, registrou o recorde de 41 novos casos, totalizando 212.

“Cidades no mundo todo estão em ‘lockdown’ [paralisação de atividades]. Em Tóquio, há preocupações sérias de que aglomerações de indivíduos infectados levem a um aumento explosivo de casos na cidade. Se isso acontecer, não teremos escolha a não ser impor medidas rigorosas de isolamento para impedir mais infecções”, declarou a governadora Yuriko Koike.

O relógio da estação central de Tóquio, que indicava a contagem regressiva para a abertura da Olimpíada, parou no número 122. A 121 dias da festa prevista no calendário olímpico original, o relógio agora marca “25-3”, 25 de março, a data de hoje.