NipOlimpíada https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br Tóquio-2020 e outras histórias Mon, 20 Apr 2020 05:24:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Tóquio deserta: fotos da capital japonesa sob estado de emergência https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/16/toquio-deserta-fotos-da-capital-japonesa-sob-estado-de-emergencia/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/16/toquio-deserta-fotos-da-capital-japonesa-sob-estado-de-emergencia/#respond Thu, 16 Apr 2020 06:28:35 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/93397790_516953655668388_2146544312882561024_o.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=239 De Toyohashi (Japão)

Akira Harigae precisou sair de casa na noite de terça-feira (14), para resolver um assunto de trabalho no centro de Tóquio.

Levando a câmera a tiracolo, o fotógrafo registrou imagens da capital japonesa após a declaração de estado de emergência, diretriz para conter o novo coronavírus que foi decretada pelo primeiro-ministro Shinzo Abe no dia 7 de abril e deve durar até 6 de maio.

“Nunca imaginei ver Shibuya e Shinjuku assim, quase uma cidade fantasma”, postou Harigae, ao compartilhar o álbum “Tokyo – StateOfEmergency” no Facebook.

Por Shibuya, o cruzamento mais movimentado da capital japonesa, e um dos maiores do mundo, habitualmente passam milhares de pessoas por dia. O fotógrafo capturou imagens do endereço deserto.

Idem para Shinjuku, a estação ferroviária normalmente utilizada por mais de 3,5 milhões de passageiros por dia, o que lhe rendera o título de linha mais movimentada do mundo no Livro dos Recordes (Guinness Book) de 2018.

“É surreal como o vírus afetou tudo”, escreveu.

Confira fotos de Akira Harigae, autorizadas para publicação neste blog:

Shibuya, o cruzamento mais movimentado da capital japonesa, vazio (Akira Harigae) Shinjuku, a estação normalmente utilizada por milhões de passageiros (Akira Harigae) ]]>
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De #Tóquio2021 a #FujaDeTóquio: 5 hashtags da crise de Covid-19 no Japão https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/de-toquio2021-a-fujadetoquio-5-hashtags-da-crise-de-covid-19-no-japao/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/de-toquio2021-a-fujadetoquio-5-hashtags-da-crise-de-covid-19-no-japao/#respond Wed, 08 Apr 2020 02:31:06 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Akira.jpeg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=210 De Toyohashi (Japão)

Mais de 70 dias após o primeiro caso confirmado de Covid-19 no Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência nesta terça (7). Com duração de um mês, a medida vale para sete províncias: Tóquio, Chiba, Fukuoka, Hyogo, Kanagawa, Osaka e Saitama.

Segundo a lei japonesa, o estado de emergência não prevê impor lockdown (confinamento) como em outros países –Tóquio, a maior metrópole do mundo, é uma das poucas megacidades que não aderiu ao isolamento para conter o avanço do novo coronavírus. Mas a declaração garante a governadores a possibilidade de “pedir” que a população fique em casa.

Colégios, cinemas, bares, baladas, museus e lojas de departamento devem ter uso limitado ou suspenso. Farmácias, supermercados e serviços básicos como fornecimento de luz, internet, gás e água continuam funcionando normalmente.

Foi-se, porém, impressão de “normalidade”. Até agora o país foi menos afetado pela pandemia que Europa, Estados Unidos e Brasil, mas, desde fins de março, após o adiamento da Olimpíada (remarcada para 2021), o número de novos casos aumentou consideravelmente: em dez dias, saltou de 1.693 casos e 52 mortes (em 28 de março) para 3.654 casos e 85 mortes (em 6 de abril), segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

Até dia 6 de abril, as dez das 47 províncias japonesas com mais casos eram Tóquio (1.116), Osaka (423), Chiba (283), Kanagawa (239), Aichi (239), Hyogo (215), Saitama (201), Hokkaido (194), Fukuoka (162) e Quioto (126).

Foi um longo caminho até a declaração, sob pressões de políticos (como os governadores Herofumi Yoshimura, de Osaka, e Yuriko Koike, de Tóquio), empresários (como Masayoshi Son e Hiroshi Mikitani, magnatas da indústria da tecnologia), especialistas (incluindo Yoshitake Yokokura, presidente da Japan Medical Association), famosos e anônimos.

Estas cinco hashtags, trending topics (assuntos mais comentados) no Twitter, marcaram momentos-chave e ajudam estrangeiros a entender a cronologia da crise de Covid-19 no Japão:

#JustCancelIt

Ao longo de fevereiro, o número de casos confirmados pulou de 20 para 241. Na época, a situação parecia sob controle –tanto que organizadores e autoridades asseguraram a continuidade do calendário e afastaram rumores de cancelamento da Olimpíada na capital japonesa por conta do surto de coronavírus, um discurso que se arrastou por meses.

Entretanto, no Twitter japonês já subia a hashtag #JustCancelIt (“apenas cancele”), referência ao clássico mangá “Akira”, de Katsuhiro Otomo, publicado na década de 1980. Na história, Tóquio é destruída na Terceira Guerra Mundial e, reconstruída como Neo-Tóquio, será sede da Olimpíada de 2020.

Um dos quadrinhos mostra o número 147 na contagem regressiva até os Jogos, o equivalente a 28 de fevereiro deste ano. Ao lado do painel está pichado “chuushu da chuushi”, que pode ser traduzido como “cancele, apenas cancele”.

 

#Tokyo2021

Atletas de diversas nacionalidades, como o nadador brasileiro Nicholas Santos, o decatleta americano Ashton Eaton e o triatleta espanhol Fernando Alarza, publicaram posts com a hashtag #Tokyo2021 ao longo de março, endossando o movimento de federações e comitês pedindo o adiamento dos Jogos Olímpicos.

Em 24 de março, o Comitê Olímpico Internacional anunciou o adiamento para 2021, fato inédito na história olímpica moderna. Após a decisão, o país registrou uma escalada de novos casos: 114 em 25 de março, 225 em 28 de março, 317 em 2 de abril, 522 em 4 de abril.

 

#StayHomeJapan

Após a alta de casos de fins de março, anônimos e famosos passaram a divulgar a campanha digital #StayHome (“fique em casa”) no país –pela primeira vez, meses após o início do surto.

O músico japonês Yoshiki Hayashi é um dos mais ativos: além de tuítes, gravou a música “Sing for Life” em apoio às quarentenas internacionais, com Bono Vox (do U2), Jennifer Hudson e will.i.am (rapper do Black Eyed Peas).

A artista japonesa Masora Fukuda, que vive nos Estados Unidos, publicou o vídeo “Dear me 10 Days ago – US to Japan”, uma colagem de depoimentos de seus amigos americanos, endereçada aos jovens japoneses, destacando o quanto a situação dos surtos pode se agravar e chamando a atenção para a importância da quarentena.

 

#AbeNoMask

Apesar das pressões e dos recordes de novos casos, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou ao parlamento que não era a hora de declarar estado de emergência em 2 de abril. “Por enquanto, as infecções estão sob controle”, justificou.

Enquanto líderes de diversos países instauravam quarentenas e restrições de movimento, Abe anunciou uma medida inusitada para controlar o avanço do vírus: a distribuição de duas máscaras reutilizáveis por casa japonesa até o fim de abril. Há cerca de 50 milhões de residências e 127,3 milhões de habitantes no país.

O premiê se tornou alvo de críticas, como descreveu o jornalista japonês Tomohiro Osaki, por lançar uma proposta muito aquém das medidas esperadas do Estado diante da grave crise. “É uma brincadeira de 1o de abril?”, tuitou o escritor japonês Naoki Hyakuta.

A internet não perdoou: no Twitter, viralizou a hashtag #AbeNoMask (“máscara de Abe”) e diversos memes, como montagens com o premiê vestindo duas máscaras, uma delas cobrindo os olhos –lembra a icônica imagem do presidente Jair Bolsonaro tentando ajeitar a peça no rosto, durante entrevista à imprensa no Brasil.

 

#EscapeTokyo

Após a declaração de estado de emergência, em 7 de abril, uma tendência inusitada se instalou: ao invés de aumentar o apoio a campanhas pró-isolamento social, o simples “fique em casa”, #EscapeTokyo (“fuja de Tóquio”) subiu aos trending topics do Twitter no Japão.

A ideia é sair da capital, o atual foco, cuja área metropolitana abriga 35 milhões de pessoas, e ir para a casa da família ou de amigos no interior para se isolar –o que pode implicar deslocamentos, viagens e, voilà, novas infecções.

“Isso só vai espalhar o vírus”, alertou o médico Nobuhiko Okabe, um dos integrantes do painel de especialistas do governo japonês, segundo a agência Reuters. “É preciso aguentar. Não devemos nos apressar para ir embora”, disse.

Em outras palavras: não é hora de fugir, mas de ficar em casa, pelo bem de todos, arquipélago adentro e mundo afora.

 

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5 hábitos de higiene no Japão (antes e durante a pandemia de Covid-19) https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/#respond Thu, 02 Apr 2020 01:27:10 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/tore-f-9OEDisIbOUM-unsplash.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=174 De Toyohashi (Japão)

Bons hábitos de higiene, como manter as mãos sempre limpas (com água e sabão ou álcool em gel de concentração de pelo menos 60%), cobrir a boca ao tossir e espirrar (com a dobra do cotovelo ou lenços descartáveis) e manter distância de no mínimo 2 metros de quem estiver tossindo e espirrando estão entre as principais recomendações das autoridades de saúde para se proteger do novo coronavírus.

Pré-pandemia, os japoneses já eram famosos por hábitos de higiene (e certa mania de limpeza), no dia a dia, dentro e fora de casa.

Após a declaração de pandemia da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2, muitos reforçaram cuidados no país, que registrou 1.953 casos (além dos 712 do navio Diamond Princess) e 56 mortes até 31 de março.

Há controvérsias, dúvidas e discussões sobre o status do surto no Japão –se o pior já passou ou está por vir, diante da alta de novos casos confirmados após o adiamento oficial da Olimpíada e o temor de um boom acelerado a partir de abril.

Também se discute o peso dos hábitos de higiene no controle de infecções: à imprensa internacional, infectologistas como Sachio Miura, da Universidade de Nagasaki, indicaram que os costumes têm ajudado a controlar a disseminação do vírus; outros especialistas, como Kentaro Iwata, da Universidade de Kobe, ponderaram que apenas a cultura não é resposta para compreender o diminuto número de casos de contágio no Japão.

“Baixo número de testes = baixo número de casos. Não é difícil de entender”, sintetiza um post no Facebook. “Máscaras, mãos limpas, banho todo dia e menos contato físico. Não é difícil de entender”, aposta outro, no Twitter.

Na dúvida, manter as mãos limpas não faz mal a ninguém. Eis cinco costumes nipônicos, antes e durante a pandemia:

1. Ojigi

“Ojigi” é a reverência japonesa, um gesto de gentileza, curvando-se para cumprimentar os outros. Feita em diferentes inclinações, vale para saudações como “oi”, “obrigada” e “bom dia”, além de pedidos de desculpas e demonstrar respeito. Aqui não são comuns cumprimentos com beijos, abraços ou aperto de mão. Diante das orientações para evitar contato físico, é uma alternativa interessante.

Entretanto, o distanciamento também tem episódios extremos. Conforme reportou o jornal The Japan Times, entrever alguém tossir se tornou motivo de olhares tortos, terror e até brigas –a tendência foi batizada de “corohara” na imprensa japonesa (“coronavirus harassment”, em inglês; algo como “coronassédio”, em português).

Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons - 2007)
Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons – 2007)

2. Masuku

Desde o surto da Sars (em 2003) e da epidemia de H1N1 (em 2009), máscaras (“masuku”) se tornaram itens comuns no dia a dia dos japoneses. Além de proteger as vias nasais para amenizar alergias (como o “kafunsho”, a hipersensibilidade ao pólen, que atinge um quinto da população do país), a peça passou a ser usada independentemente das estações, como acessório “fashion”, com detalhes e diferentes estampas, para esconder imperfeições do rosto e até para dar a sensação de conforto e confiança a quem a veste.

Máscaras são aliadas no combate ao Sars-CoV-2, pois uma das principais vias transmissão do vírus são as gotículas de saliva. Entretanto, especialistas divergem sobre a necessidade do uso o tempo todo: a OMS diz que as peças devem ser usadas apenas por pessoas que estejam tossindo ou espirrando, ou por quem esteja cuidando de alguém infectado ou sob suspeita de Covid-19. Aqui, elas esgotaram nos mercados no início do surto, deixando muita gente desmascarada.

3. Tisshu

É comum andar com acessórios como lenços, lenços umedecidos ou toalhinhas a tiracolo, no bolso, na bolsa e no carro, para imprevistos fora de casa, como um eventual espirro –dentro de um banheiro preferencialmente, pois assoar o nariz em público é considerado extremamente rude, embora certamente aconteça. Há diversas marcas de “tisshu” (palavra derivada do inglês, “tissue”), o lencinho de papel fino, flexível e descartável, com embalagens e caixinhas coloridas.

Antes, era comum encontrar pequenos pacotes de lencinhos como brindes na entrada de empresas, além de spray desinfetante para as mãos. Hoje, nem tanto: ao lado do papel higiênico, o lencinho de papel esgotou nos mercados japoneses, após se alastrar uma fake news que dizia que a matéria-prima vinha da China, primeiro epicentro do coronavírus, o que afetaria a produção.

Alunos da escola primária limpando os corredores da escola, em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas - 2015)
Alunos limpando corredores de escola em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas – 2015)

4. Sōji

Torcedores japoneses recolhendo lixo das arquibancadas dos estádios após os jogos na Copa do Mundo no Brasil (2014) e na Rússia (2018), estudantes e crianças varrendo corredores e lavando banheiros nos colégios. Os gestos, que foram destaque na mídia mundo afora, refletem a cultura japonesa de não deixar nada para trás, da importância de limpar lugares por onde se passa antes de ir embora –em outras palavras, “nós sujamos, nós limpamos”.

“Sōji” pode ser traduzido como faxina, incluindo atividades coletivas em estádios, escolas, escritórios, fábricas e templos. Aqui, é raro encontrar lixeiras nas ruas, impressionantemente limpas, pois o lixo é considerado responsabilidade de quem o produz. Tomou um café e não há onde jogar o copo? Carregue-o até encontrar uma lata de lixo; se não encontrar, leve-o para a lixeira de casa. Toda casa japonesa recebe um calendário colorido e uma cartilha com as regras para a coleta superseletiva do país. Em tempos de pandemia, menos lixo bagunçado pode significar menos risco para quem faz a limpeza urbana.

5. Genkan

Lares japoneses (casas e apartamentos, antigos ou novos, mas de estilo tradicional) possuem um “genkan”, um tipo de degrau na porta principal, onde deve-se tirar e deixar os sapatos para entrar apenas de meias ou vestir pantufas ou chinelos especiais, as “suripas”. O hábito vale para a própria residência e a dos outros, além de muitos hotéis, escritórios e colégios. A ideia é delimitar o lado de fora e o de dentro, a fim de evitar que a sujeira da rua entre em casa.

Esta é uma das indicações presentes no “protocolo boliviano” que viralizou nos últimos dias. Entretanto, conforme revelou reportagem publicada nesta Folha, o documento tinha exageros e erros. Tirar os sapatos não impede o coronavírus, mas a diretriz deveria ser seguida no dia a dia para evitar a contaminação por outros microorganismos.

Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar em casa (Wikimedia Commons)
Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar (Wikimedia Commons)
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À espera das cerejeiras https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/a-espera-das-cerejeiras/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/a-espera-das-cerejeiras/#respond Thu, 05 Mar 2020 06:20:03 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/sora-sagano-8sOZJ8JF0S8-unsplash-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=80 De Nagoia (Japão)

A dias da esperada temporada de cerejeiras, tímidas flores já despontam nos jardins do castelo de Nagoia, na província de Aichi, no Japão. Sob a chuva fina de fins de fevereiro, visitantes, muitos mascarados, fotografam as árvores em close-up para captar as pequenas pétalas de sakura.

Quase no fim deste inverno, um dos mais amenos dos últimos anos, sakuras vão colorir o arquipélago antes do esperado. Segundo o último boletim da Japan Meteorological Corporation, as cerejeiras vão desabrochar na capital, Tóquio, durante onze dias a partir de 15 de março. Em Hiroshima, as florações estão previstas para 19 de março; em Kagoshima, ao sul, 31 de março; em Sapporo, ao norte, 30 de abril.

É a época do “hanami”, a arte de admirar as flores, uma tradição secular no Japão. Em tese, é a singela contemplação das cores das cerejeiras em flor, em diferentes tons de pink e branco. Em tempos instagramáveis, inclui festivais que movimentam mais de 60 milhões de viajantes, japoneses e estrangeiros, ávidos por fotos nos parques floridos, iluminados e tomados por piqueniques.

Entretanto, os maiores festivais de hanami, como os tradicionais de Tóquio e Osaka, foram cancelados neste ano a fim de evitar aglomerações –sim, devido ao surto do novo coronavírus, assunto que segue dominando a imprensa japonesa.

Hanami é a arte de admirar as flores de cerejeiras, uma tradição secular no Japão (Pavlo Klein/Unsplash)

Além de colégios parados, companhias priorizando home office, jogos de futebol e beisebol alterados, Tokyo Disney e Universal Studios Japan temporariamente fechados, shows e eventos como Anime Japan e Tokyo Fashion Week foram cancelados de última hora. A vida parece em suspenso, em suspense.

O clima de incerteza se agrava com as declarações desencontradas das autoridades olímpicas. Seiko Hashimoto, ministra de Tóquio-2020, acenou a possibilidade de adiamento dos Jogos. Dick Pound, integrante canadense do Comitê Olímpico Internacional, idem. A cada deslize, o comitê martela o compromisso de sediar o torneio nas datas marcadas, 24 de julho para a Olimpíada, 25 de agosto, a Paraolimpíada.

“Isso quer dizer que a competição mais celebrada do mundo, mais ansiada pelos atletas e de maior visibilidade planetária corre o risco de ser desfigurada por uma força microscópica, destituída de consciência ou intenção. Que mundo curioso esse onde os extremos se testam em seus pontos mais fracos”, escreveu a colunista Katia Rubio nesta Folha.

Tradicionais festivais de hanami, como os de Tóquio e Osaka, foram cancelados (Kazuend/Unsplash)
Época das cerejeiras simboliza recomeços no Japão (Kazuend/Unsplash)

Não é só a Olimpíada, o glorioso encontro esportivo que simboliza a paz entre as nações, que corre o risco de ser desfigurada no Japão. É o dia a dia, a ida ao colégio ou ao mercado, o trivial que se tornou incerto, imprevisível – como as cerejeiras, maior símbolo da efemeridade deste lado do mundo.

“As sakuras também ensinam sobre a imprevisibilidade da vida. As flores de cerejeira desabrocham uma vez por ano, na primavera, e dura apenas uma semana. Os botões que se abrem vão do branco a várias tonalidades de rosa. O vento faz com que as pétalas voem pelo ar, formando uma espécie de neblina rosada; sob essa chuva, pisa-se sobre um chão que me faz lembrar de carnavais passados — o confete produzido pela própria natureza”, descreveu a jornalista Paula Carvalho, na revista Quatro cinco um.

Apesar da simbologia sublime das sakuras, os ares poéticos colidem com o vírus da vez. Também associadas a recomeços, já que surgem na época de início do ano letivo e do ano fiscal japonês (1º de abril), as flores encontram um calendário confuso neste ano.

“O hanami de 2020 ainda vai acontecer?!”, indaga-se aflitivamente em diversos posts na internet. Sim: com ou sem luzes festivas, as flores estarão lá para pura e simples contemplação. Elas sempre colorem o país nessa época, mesmo que tudo ao redor esteja desmoronando. Festivais foram cancelados; a primavera, não.

No filme “The Tsunami and the Cherry Blossom” (2011), indicado ao Oscar de melhor documentário em curta-metragem, um dos sobreviventes da onda gigante que atingiu Fukushima observa as árvores que floresceram pouco tempo depois da catástrofe. “Se as flores estão se aguentando, nós também precisamos aguentar”, diz.

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Isto não é um símbolo nazista https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/#respond Thu, 20 Feb 2020 08:00:43 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/2460877397_eb0a8768da_c-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=31 De Toyohashi (Japão)

Aviso aos navegantes: isto não é um símbolo nazista.

“Manji” (卍) é a suástica japonesa budista, um símbolo de sorte e paz, presente em diversas cidades deste lado do mundo. É inclusive o ícone para sinalizar templos budistas nos mapas do Japão, onde há mais de 45 milhões de adeptos e 75 mil templos, santuários e outras organizações budistas.

Suástica vem do sânscrito “svtika”, que quer dizer busca de bem-estar. A cruz gamada marcou diversas culturas, dos antigos gregos aos astecas, muito antes de ser “sequestrada” pelos nazistas – um dos registros mais antigos data do século 7 a.C., uma peça de cerâmica descoberta no Oriente Médio, atualmente exposta no Museu do Louvre, na França.

Já a versão virada 45 graus à direita, a cruz negra dentro de um disco branco e um fundo vermelho, foi estilizada como emblema oficial do 3o Reich de Adolf Hitler, na década de 1930. A insígnia “Hakenkreuz” ficou tão marcada, historicamente associada às barbaridades nazistas, que hoje é proibida por lei em diversos países. No Brasil, fabricar, distribuir ou divulgar o distintivo como apologia ao nazismo é crime e pode render até cinco anos de prisão.

Enquanto a suástica nazista se tornou símbolo de ódio, a suástica budista é paz e amor. Em 2016, entretanto, autoridades japonesas fizeram uma consulta pública à sociedade sobre a possibilidade de riscar o “manji” dos mapas turísticos, substituindo-o por uma ilustração de pagode (um estilo de templo) para não provocar confusões ou ferir a sensibilidade de visitantes desavisados durante os Jogos de Tóquio-2020.

Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)
Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)

Na época foram mobilizadas campanhas pró-manji na internet. “É um símbolo sagrado no hinduísmo e no budismo. Está aí há milhares de anos, enquanto a ‘Hakenkreuz’ existe há menos de 100. Dar prioridade ao símbolo associado ao nazismo e à supremacia branca, ao decidir se o manji’ japonês deve ficar ou não, é absurdo e desrespeitoso”, dizia um dos abaixo-assinados digitais.

“Antes da chegada dos visitantes e das primeiras minicrises de ‘por que tem uma suástica no templo?!’ dos turistas, vamos informar. Poste artigos sobre o assunto, compartilhe petições, use esses e outros recursos para iniciar conversas. Para o bem da herança cultural do Japão e de seus visitantes, espalhe a palavra”, registrou à época a escritora canadense Helen Langford-Matsui, radicada na província de Kanagawa, no jornal Japan Times.

Após a consulta, martelou-se: a suástica budista fica. Presente em ruas, templos, monumentos, estações e cemitérios, o ícone continua a ilustrar mapas turísticos e Google Maps. Aos marinheiros de primeira viagem, portanto, não custa lembrar: isto 卍 não é um símbolo nazista.

Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
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Japanglish, um ‘dialeto’ para quem se aventura pelo Japão https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/japanglish-um-dialeto-para-quem-se-aventura-pelo-japao/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/japanglish-um-dialeto-para-quem-se-aventura-pelo-japao/#respond Tue, 11 Feb 2020 22:40:15 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/img_8462-300x215.png https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=36 De Toyohashi (Japão)

Japonês não é simples. Com três alfabetos (hiragana, katakana e kanji) e uma estrutura bastante diferente da língua portuguesa, o “nihongo” dificilmente é aprendido assim, do dia para a noite. Não dominar o idioma inteiramente, entretanto, não é empecilho para quem pretende se aventurar no país pela primeira vez.

Na capital Tóquio, que espera receber 40 milhões de visitantes estrangeiros por conta da Olimpíada, o acesso a pontos turísticos não é difícil – é possível visitar os principais a partir do metrô, sem arriscar uma palavra de japonês.

Em outras cidades, onde talvez não haja transcrições em letras romanas (o “romaji”) nas estações de trens ou sinalizações de trânsito, a situação é um pouco mais complicada. Um tradutor do Google pode salvar o dia.

Google, no Japão, se pronuncia “Guguru”. Este é um dos exemplos de “Japanglish”, um neologismo para indicar a fusão das línguas japonesa e inglesa. Também é lembrado como “Wasei Eigo”, um tipo de inglês “made in Japan”.

Palavras estrangeiras são adaptadas e pronunciadas com um singular sotaque no arquipélago asiático, devido à estrutura fonética da língua japonesa, que não inclui os sons das letras L e V, por exemplo. Assim, hotel se diz “hoteru” e “convenience store” (loja de conveniência, presente praticamente a cada esquina no país), “konbini”. Bolsonaro vira “Borusonaro”.

Eis outros dez exemplos de palavras derivadas do inglês na pronúncia nipônica, que podem ser úteis para quem pretende visitar o país durante a Olimpíada:

  1. Bus (ônibus): basu
  2. Beer (cerveja): biru
  3. Coffee (café): kohi
  4. Taxi (táxi): takushi
  5. Baseball (beisebol): besuboru
  6. Basketball (basquete): basukettoboru
  7. Boxing (boxe): bokushingu
  8. Rugby (rúgbi): ragubi
  9. Soccer/football (futebol): sakkā ou futtobōru
  10. Volleyball (vôlei): bareboru

Muitas dessas expressões foram destacadas na música “Tokyo Bon 2020 (Makudonarudo)”, que viralizou e teve mais de 70 milhões de visualizações desde seu lançamento, em fins de 2017.

Além de Google, outras marcas estrangeiras também são “adaptadas” aqui, como ilustra o vídeo: Makudonarudo (McDonald’s), Kitto Katto (Kit Kat) e Sutabakkusu (Starbucks).

Protagonizado pelo rapper malaio-chinês Namewee e pela atriz japonesa Meu Ninomiya, com ritmo pop e dança típica Bon Odori, o clipe retrata justamente um estrangeiro perdido e pedindo informações nos principais pontos turísticos da capital japonesa.

O número 2020, presente no título da música, é referência direta aos Jogos Olímpicos –aliás, Orinpikku Kyōgi Taikai.

(Imagem no alto: Frame do clipe “Tokyo Bon 2020 (Makudonarudo)”, do músico Namewee (YouTube/Reprodução)

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