NipOlimpíada https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br Tóquio-2020 e outras histórias Mon, 20 Apr 2020 05:24:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Japão demorou para acordar para pandemia, diz autor https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/japao-demorou-para-acordar-para-pandemia-diz-autor/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/japao-demorou-para-acordar-para-pandemia-diz-autor/#respond Mon, 20 Apr 2020 05:01:34 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/maria-krasnova-kuQMDsE91HU-unsplash.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=279 De Toyohashi (Japão)

Taggart Murphy desembarcou no aeroporto internacional de Narita, Tóquio, em 25 de março –um dia após o anúncio do adiamento da Olimpíada, um dia antes de valer a quarentena imposta a viajantes vindos dos Estados Unidos. 

Murphy, 67, é um acadêmico americano que viveu parte da infância e da adolescência no Japão. Depois, passou quase duas décadas ininterruptas no arquipélago, como professor da Universidade de Tsukuba, campus de Tóquio. 

No fim de 2019, já aposentado, o acadêmico voltou para os Estados Unidos, mas, após o início da pandemia de Covid-19, decidiu cruzar o mundo de novo para “passar a tempestade” junto à sua família que está no Japão. 

Autor de “Japan and the shackles of the past (what everyone needs to know)” (Japão e os elos do passado –o que todo mundo precisa saber, em tradução livre, Oxford University Press, 2014), Murphy escreve na atual edição da revista New Left Review sobre a experiência asiática, especialmente japonesa, no controle do novo coronavírus. 

Nesta entrevista exclusiva ao blog, discute história, política e a incógnita nipônica: por que o arquipélago, atingido pelo coronavírus em janeiro, demorou para ver uma escalada explosiva de casos, o que está acontecendo agora, em abril?

Professor Murphy, o Japão foi elogiado por controlar o avanço do novo coronavírus. Por outro lado, foi criticado por não realizar testes numerosos e acusado de querer camuflar números para viabilizar a Olimpíada. Sob pressões e só recentemente, o país declarou estado de emergência. Como analisa a situação japonesa?

O Japão não agiu proativamente como outros países asiáticos, como China, Coreia do Sul e Cingapura, que tomaram medidas diferentes, mas agressivas: na China, lockdown rigoroso; na Coreia do Sul, muitos testes; Cingapura, Hong Kong e Taiwan instauraram imediatamente restrições rigorosas a viagens internacionais. O Japão não fez nada disso no início do surto. Mas, até agora, o país não viveu uma explosão de casos e de mortes, como na Itália e agora nos Estados Unidos. 

Diversas hipóteses foram levantadas sobre os números japoneses. Primeiro, a realização mínima de exames, como reportou o jornalista americano Jake Adelstein no Asia Times, citando o depoimento em off de um oficial do Ministério da Saúde, para “manter os números baixos e fazer o possível para que tudo pareça ‘sob controle'”.

Segundo o depoimento, a estratégia era literalmente focar no tratamento de casos graves e impedir corridas a hospitais, na expectativa de que casos leves fossem resolvidos por conta própria sem necessidade de diagnóstico e internação. Em outras palavras, a maioria dos infectados iria se recuperar sozinhos, graças a seus sistemas imunológicos, reservando à minoria dos infectados a excelente infraestrutura para tratamento de pneumonia (uma das complicações mais sérias do novo coronavírus). 

Segundo, a possibilidade de subnotificação deliberada de casos. Entretanto, você consegue subnotificar casos, mas não consegue esconder corpos –neste contexto, testando, tendo casos ou não, não houve aumento dramático no índice de mortalidade de país, onde idosos são quase 30% da população. Como se explica isso? 

Terceiro, as ideias de que cultura, estilo de vida (como uso de máscaras há bastante tempo) ou hábitos de higiene básica bastariam para conter o avanço do vírus no país. No entanto, se essa especulação valia até fins de março, a partir de abril o número de diagnósticos subiu dramaticamente. De novo, como se explica isso? 

Ninguém tem a resposta. E os que sabem, nos bastidores do governo, não comentam. De todo modo, após o adiamento da Olimpíada, que teoricamente iria coroar o tempo de Shinzo Abe como primeiro-ministro, o governo passou a expressar sinais de preocupação publicamente, pela primeira vez, de que as coisas podem sair do controle. 

Enquanto Jair Bolsonaro vem sendo criticado por negar a gravidade da pandemia, Shinzo Abe foi criticado por silenciar diante dela. Vê paralelos entre Brasil e Japão?

Brasil e Estados Unidos são ótimos exemplos de negação da gravidade do vírus por bastante tempo, e o resultado está sendo visto agora, com a escalada de casos registrados e de mortes. 

No Japão, há outra questão subjacente: a falta de certa autoridade nas decisões políticas do país. Aqui, o poder é fraturado e excepcionalmente fraco diante dos padrões globais. O peso político de Shinzo Abe é diferente do de Boris Johnson, no Reino Unido, que é um sistema similar de parlamentarismo, por exemplo. A influência para implementar medidas é muito diferente. 

Abe só declarou estado de emergência após diversas pressões, inclusive de governadores implorando para instaurar ações mais fortes. Entretanto, o estado de emergência japonês não tem implicações legais, na verdade. Isto é, a declaração garante a governadores a prerrogativa de “pedir fortemente” para a população adotar certos comportamentos, como evitar aglomerações ou deixar de ir a bares e casas de shows, mas a polícia não pode intervir, não pode atribuir multas a quem abrir negócios ou estiver zanzando por aí.  

O Japão é um laboratório político fascinante. Pensando nos paralelos com Brasil, Estados Unidos, Europa, aqui o alinhamento político está curiosamente invertido. Em geral, a direita diz que os governos estão exagerando ou indo longe demais nas diretrizes de lockdown e quarentena, como se a pandemia fosse uma “armadilha” imaginada pela esquerda; a esquerda, por sua vez, diz que precisamos fazer o possível para preservar as vidas, respeitando as restrições de movimento ao máximo. 

No Japão é o contrário: alas da direita conservadora defendem que esta é a hora de revisar a Constituição e dar mais poder ao primeiro-ministro, parar o país e impor regras rigorosas de isolamento; enquanto setores da esquerda progressista ponderam e alertam aos riscos de repressão e de flertar com políticas autoritárias, atropelando direitos. Mas, como a polarização política japonesa não é acirrada como em outros países, esses embates existem, mas não são muito discutidos agressivamente. Se lá fora há expectativa de convulsões sociais e tudo mais, aqui dificilmente isso vai acontecer.

O gesto de autoridades de “pedir” para a população evitar aglomerações, como indica o estado de emergência, é o bastante?

Historicamente, a coesão social é muito forte no Japão. O poder da pressão social é singular: tende-se a não confrontar, mas seguir as regras da sociedade, não necessariamente impostas por um ou outro governante. É parte da “administração da realidade”, termo cunhado pelo jornalista holandês  Karel van Wolferen, autor de “The enigma of Japanese power: people and politics in a stateless nation” [o enigma do poder japonês: povo e política em uma nação sem estado, em tradução livre, Vintage Books, 1989]

A administração da realidade consiste em um conjunto de instituições e práticas que pressionam para garantir um certo comportamento dos japoneses, previsível e que não deixa margem para contradições ou contestações. Diversas instituições, incluindo imprensa, mercado e política, contribuem para a construção dessa realidade. É um consenso implícito, um conjunto de regras não ditas: todo mundo “simplesmente sabe” que deve ser assim ou assado. 

O que se vê agora é a arte da administração da realidade: o estado de emergência só vai funcionar se prevalecer o consenso de que a crise do novo coronavírus está entre nós, para que todo mundo veja e aceite que é preciso tomar atitudes em certa direção.

Exemplo: o primeiro surto aqui aconteceu em Hokkaido. No fim de fevereiro, foi a primeira província a declarar estado de emergência [que se encerrou em 19 de março; a nova declaração, que vale para o país todo, se iniciou em 16 de abril]. Hokkaido conseguiu conter o avanço do vírus, sem imposições legais, quer dizer, funcionou o “pedido” de suspensão de atividades não-essenciais, como colégios, casas de show etc. A política funcionou no primeiro momento, derrubando o número de novos casos por dia ali. 

No livro, o sr. diz que a política japonesa é basicamente reativa. Qual é o impacto desta tradição diante de crises como a atual?

Sim, historicamente, a política japonesa é reativa. O lado negativo é a demora para reagir a crises, agarrando-se à ideia de que está tudo sob controle até o último minuto, como na crise do petróleo de 1973, na crise financeira internacional de 2008 e no desastre de Fukushima de 2011. A crise atual é outro exemplo. 

O lado positivo, que a história japonesa também mostra, é que, quando uma crise se torna clara, cristalina e inegável, quando uma realidade se impõe mostrando riscos realmente altos, a coesão social é forte o bastante para fazer o país mudar drasticamente de diretrizes e reagir com eficiência. 

Foi o que aconteceu, por exemplo, na reconstrução japonesa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o famoso “milagre econômico”, na resposta às crises de 1973, 1979 e 2008 –apesar dos abalos, que não foram pequenos, o Japão ainda é a terceira maior economia do mundo. Por isso, inclusive, digo que prefiro estar aqui se as coisas ficarem realmente feias, se o vírus fugir do controle, colapsando totalmente sistemas de saúde no mundo inteiro. 

Contudo, aqui ainda não há consenso se essa hora já chegou. O que falta agora é finalmente acordar para a pandemia. É como se eles estivessem ponderando: “nós sabemos que o novo coronavírus é sério, mas ainda não é gripe espanhola” ou “é ruim, mas ainda não é tão ruim assim”, vamos dizer. Isto é, como se estivessem incertos sobre o quão grave é especificamente no território japonês, e esse tipo de incerteza é o obstáculo para reagir mais agressivamente. 

É brutal, mas até agora vem prevalecendo um pensamento de análise de riscos, do que está em jogo: vale parar tudo, talvez instaurar o caos, para preservar a vida de 20 ou 30 mil octogenários que vão morrer sozinhos nos próximos cinco anos? Obviamente, faz parte do não dito: ninguém vai dizer isso publicamente. 

O livro destaca como o Japão construiu historicamente uma identidade nacional, uma nação à parte do mundo –isolada, como uma ilha. Isso influencia o tratamento a imigrantes no país?

O Japão não abrirá portas para grandes contingentes de imigrantes tão cedo, penso, considerando a história do país. A falta de mão de obra é um problema econômico e um problema demográfico, mas não vejo nenhuma possibilidade de abertura maior a imigrantes.

Até agora, a política para atrair mão de obra tem privilegiado descendentes diretos de japoneses, na expectativa de que os estrangeiros sejam assimilados e não provoquem confusões, o que também tem a ver com a tal coesão social tão forte no país. É até um tipo de ingenuidade dos japoneses, mas eles esperam que os nikkeis nascidos no Brasil, por exemplo, podem se revelar “mais japoneses” e “menos brasileiros” pelo simples fenótipo.

É um pouco diferente para imigrantes caucasianos, como eu, que sou visivelmente não japonês e nem sequer descendente distante. Digo que se você consegue ser feliz como um “outsider”, o Japão é um lugar maravilhoso para viver. Meu companheiro é japonês, muitos de meus amigos mais próximos são japoneses. Mas eu sei que eu sempre serei visto como estrangeiro, como um “gaijin”.

‘Japan and the shackles of the past’ (Oxford, 2014)
‘Japan and the shackles of the past’ (Oxford, 2014)
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Anticlímax, compreensão e memes marcam Tóquio-2020, adiada para 2021 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/25/anticlimax-compreensao-e-memes-marcam-toquio-2020-agora-2021/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/25/anticlimax-compreensao-e-memes-marcam-toquio-2020-agora-2021/#respond Wed, 25 Mar 2020 07:40:13 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/15850767345e7a59feacc3f_1585076734_3x2_lg.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=138 De Toyohashi (Japão)

É oficial. Depois de dias quicando, o Comitê Olímpico Internacional cravou: os Jogos Olímpicos de Tóquio ficaram para 2021.

É a primeira vez na história olímpica moderna que uma edição dos Jogos muda para outro ano –três foram canceladas (1916, 1940 e 1944), devido às Guerras Mundiais.

Além das pressões internacionais, de federações de atletas, jornalistas e políticos, o adiamento era esperado no Japão: 69,9% dos japoneses ouvidos pela enquete da agência Kyodo, no início do mês, não contavam com que a Olimpíada ocorresse de fato neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus.

Diante do anticlímax, apesar de certo desapontamento, o clima predominante é de compreensão e manifestações de apoio (e até de alívio) na imprensa e na internet.

Organizadores da Tóquio-2020 (ou Tóquio-2021, se decidirem atualizar o título oficial dos jogos) vão se reunir no dia 30, na Japan Sport Olympic Square, o QG administrativo na capital japonesa, para discutir os próximos passos.

É incerto se os Jogos serão rebatizados, visto que a marca foi consolidada, junto a patrocinadores, produtos e público desde a escolha da capital japonesa como sede, em setembro de 2013. Mas já surgiram memes como o cartaz carimbado indicando 2021 (aqui, quando se rasura um documento oficial, é preciso destacar a errata com um carimbo pessoal, o “inkan”).

Outros publicaram fotos relacionadas à instalação de arte “Tokyo 2021”, promovida pela construtora Toda Building, que esteve em cartaz até outubro de 2019 –e que ainda detém o domínio tokyo2021.jp.

Datas, contratos, ingressos, tudo deverá ser rearranjado para o novo e indefinido calendário, inclusive o destino das instalações, já prontas, e da tocha olímpica, que está no território japonês, mas não vai mais cruzar o país a partir do dia 26.

“Tóquio-2020 pode ser a luz no fim deste túnel escuro que todos nós estamos passando juntos agora. E todos nós queremos ver a chama olímpica como a luz no final deste túnel”, declarou o dirigente alemão Thomas Bach, presidente do COI, reiterando expressões presentes na carta dirigida dias antes aos atletas olímpicos.

É difícil dizer se a metáfora é bem-vinda no momento. No último fim de semana, estendido pelo feriado de sexta-feira (20), o marco do início da primavera, mais de 50 mil pessoas se enfileiraram na estação de trem de Sendai, na província de Miyagi, para ver a pira olímpica. A aglomeração acendeu o alerta amarelo no país, que registrou outras multidões, embaladas pela atmosfera primaveril e as primeiras flores de cerejeiras.

Terça-feira (24) foi um dia decisivo. Além do anúncio do adiamento da Olimpíada e da repercussão de relatos de aglomerações arquipélago adentro, a data marcou a alta de 17 novas infecções do coronavírus em Tóquio. No fim do dia seguinte, registrou o recorde de 41 novos casos, totalizando 212.

“Cidades no mundo todo estão em ‘lockdown’ [paralisação de atividades]. Em Tóquio, há preocupações sérias de que aglomerações de indivíduos infectados levem a um aumento explosivo de casos na cidade. Se isso acontecer, não teremos escolha a não ser impor medidas rigorosas de isolamento para impedir mais infecções”, declarou a governadora Yuriko Koike.

O relógio da estação central de Tóquio, que indicava a contagem regressiva para a abertura da Olimpíada, parou no número 122. A 121 dias da festa prevista no calendário olímpico original, o relógio agora marca “25-3”, 25 de março, a data de hoje.

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Rumo a Tóquio, pira olímpica vai cruzar mais de 850 cidades japonesas https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/#respond Thu, 19 Mar 2020 10:15:21 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Aris-MessinisReuters-300x215.jpeg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=109 De Toyohashi (Japão)

A 127 dias dos Jogos de Tóquio de 2020, a chama olímpica foi entregue pelos gregos aos japoneses na manhã desta quinta (19), a portas fechadas no estádio de Atenas, marco do início dos Jogos Olímpicos na era moderna, de 1896.

Amanhã a pira deve desembarcar na base da Força Aérea do Japão na cidade de Higashi Matsushima, na província de Miyagi.

No arquipélago asiático, onde foram registrados mais de 1.500 casos de Sars-Cov-2 (incluindo os casos do cruzeiro Diamond Princess), a tocha teoricamente passará pelas mãos de 10 mil “mensageiros” olímpicos a partir de 26 de março, percorrendo 859 cidades das 47 províncias japonesas ao longo de 121 dias, culminando com a cerimônia da abertura da Olimpíada, marcada para 24 de julho até segunda ordem.

Se nos Jogos de 2016 o público se acotovelava para ver a tocha, escoltada por cordões humanos ao cruzar 26 mil km e 325 cidades até chegar no Rio, Tóquio precisou instaurar outros protocolos.

Forças-tarefas de cada província ainda vão divulgar detalhes sobre a passagem da tocha (incluindo se os eventos sequer serão inteiramente abertos ao público). Segundo informe da assessoria de imprensa da Tóquio-2020, os anúncios serão feitos no mínimo sete dias antes de cada parada.

“As situações estão mudando de hora em hora”, abreviou o diretor executivo Toshiro Muto. Até agora, organizadores estão desencorajando a presença de fãs nas passagens da tocha no mínimo neste mês, em Fukushima, Tochigi e Gunma.

Entretanto, no embalo de “não há necessidade de decisões drásticas”, expressão do comunicado de 17 de março do Comitê Olímpico Internacional, Muto pediu para “evitar multidões” no percurso posterior, mas não definiu o que compreende por multidões, um número máximo de espectadores ou uma margem para garantir a segurança de todos.

“Não queremos que as pessoas pensem que é um pedido absoluto de abstenção. Portanto, basicamente depende da sua interpretação”, disse à imprensa internacional nesta terça.  

Já foram alterados eventos e exibições especiais pré-revezamento entre 20 e 25 de março, no trajeto entre Miyagi, Iwate e Fukushima, as três províncias atingidas pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear de 2011, que inspiram o slogan “jogos da reconstrução” da Tóquio-2020.

Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis - 12.mar.2020:Reuters)
Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis – 12.mar.2020/Reuters)

Símbolo olímpico, a chama remete à lenda do titã Prometeu, que contrariou o poderoso Zeus e roubou o fogo dos deuses para dá-los a nós, meros mortais.

Na Grécia antiga, mensageiros cruzavam cidades para anunciar os torneios e a trégua olímpica, que era capaz de interromper impasses e conflitos. Desde os Jogos de Berlim de 1936, atletas se revezam na condução da pira de Olímpia, berço dos primeiros Jogos Olímpicos, rumo aos anfitriões da vez.

Além de atletas, ex-atletas, anônimos e personalidades passaram a incorporar o tour da tocha, que já se aventurou a cavalo e camelo, a bordo de aviões, navios, barco-dragão (de Hong Kong, nos Jogos de Pequim, em 2008) e até nave espacial (a russa Soyuz, nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014).

“Hope lights our way” (“esperança ilumina nosso caminho”, em tradução livre) é o mote da trajetória da tocha, cujo design foi inspirado pelas simbólicas cerejeiras, rumo a Tóquio. Mas, no meio do caminho, há um vírus. Até agora, sem sinal de trégua olímpica.

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Vai ter Olimpíada, diz comitê após rumores relacionados ao coronavírus https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/vai-ter-olimpiada/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/vai-ter-olimpiada/#respond Thu, 06 Feb 2020 19:00:28 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/1280px-New_national_stadium_tokyo_1-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=13 De Toyohashi (Japão)

A 169 dias dos Jogos de Tóquio-2020, de 24 de julho a 9 de agosto, organizadores e autoridades asseguraram a continuidade do calendário e afastaram rumores de adiamento ou cancelamento da Olimpíada na capital japonesa por conta do surto de coronavírus.

Desde janeiro, já são mais de 28 mil infectados pelo vírus 2019-nCoV em 26 países –o número de mortos está na casa dos 560. A 2.500 km de distância da cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto, 35 casos foram confirmados no território japonês até a manhã desta quinta-feira (6). Nenhuma morte.

“Tóquio 2020 continuará a colaborar com o Comitê Olímpico Internacional e organizações relevantes e vai revisar quaisquer medidas que possam ser necessárias”, declararam os organizadores, em nota à agência Associated Press. Diante do parlamento japonês na segunda-feira (2), o primeiro-ministro Shinzo Abe “jurou garantir” que o novo vírus não inviabilize a Olimpíada.

Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador da Olimpíada, em cerimônia no dia 29 de janeiro na Vila dos Atletas, em Tóquio (Tokyo 2020/Divulgação)
Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador da Olimpíada, na Vila dos Atletas (Tokyo 2020/Divulgação)

As declarações tentam tranquilizar ânimos aqui no Japão, onde viralizou a hashtag #TokyoOlympicsCancelled no Twitter, após um blog pop japonês insinuar que, se estão ocorrendo reuniões entre Comitê Olímpico Internacional e Organização Mundial da Saúde, o futuro dos jogos estaria em risco.

O diretor executivo Toshiro Muto também negou a possibilidade de transferir os Jogos a outro país, mas admitiu estar “terrivelmente preocupado” com o impacto do surto.

Até agora, diversos eventos esportivos, entre eles etapas classificatórias para a Olimpíada, foram cancelados, adiados ou alterados para sair da China. Nos últimos dias, organizadores japoneses também desmarcaram uma viagem a Pequim para discutir os próximos Jogos Olímpicos de Inverno, que devem acontecer na capital chinesa em 2022.

Rio 2016 passa bandeira olímpica para Tóquio 2020, no Maracanã (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Rio 2016 passa bandeira olímpica para Tóquio 2020 (Fernando Frazão/Agência Brasil/2016)

Não é a primeira vez que um vírus alarma a realização de um megaevento esportivo: o surto da zika lançou dúvidas, mas no fim não abalou os Jogos do Rio 2016; já o surto de Sars obrigou organizadores a mudar o mundial de futebol feminino de 2003 na última hora, deslocando os jogos da China para os Estados Unidos a três meses do início do torneio.

No domingo, a governadora Yuriko Koike prometeu diretrizes “rigorosas” para conter o novo vírus pré-Jogos de Tóquio, mas não divulgou detalhes. “Lavem as mãos e usem máscaras”, orientou Koike, na inauguração da Arena Ariake, ginásio que receberá jogos de vôlei e partidas paraolímpicas de basquete na capital japonesa.

Deste lado do mundo, o uso de máscaras cirúrgicas é comum o ano todo, independentemente da época e inclusive como acessório “fashion”. Diante da epidemia, o produto está esgotando diariamente nos mercados –e a indústria está a todo vapor para repor estoques.

Enquanto escrevia este post, num café Starbucks na cidade de Toyohashi, a cerca de 230 km de Tóquio, todos ao meu redor usavam máscara e esfregavam freneticamente as mãos com álcool gel.

“Irashaimase!”, dizia alto a simpática atendente do café, a cada vez que a porta se abria, ajeitando a máscara para cobrir o rosto quase inteiramente e passando álcool até o pulso a cada cliente atendido no balcão. A cena deve se repetir ao longo desta Olimpíada: a expressão quer dizer “bem-vindo”.

Torre de Tóquio iluminada durante disputa para sediar Olimpíada de 2020 (Foto: Wikimedia/2013)
Torre de Tóquio iluminada durante disputa para sediar Olimpíada de 2020 (Foto: Wikimedia/2013)

 

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