NipOlimpíada https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br Tóquio-2020 e outras histórias Mon, 20 Apr 2020 05:24:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 5 hábitos de higiene no Japão (antes e durante a pandemia de Covid-19) https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/#respond Thu, 02 Apr 2020 01:27:10 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/tore-f-9OEDisIbOUM-unsplash.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=174 De Toyohashi (Japão)

Bons hábitos de higiene, como manter as mãos sempre limpas (com água e sabão ou álcool em gel de concentração de pelo menos 60%), cobrir a boca ao tossir e espirrar (com a dobra do cotovelo ou lenços descartáveis) e manter distância de no mínimo 2 metros de quem estiver tossindo e espirrando estão entre as principais recomendações das autoridades de saúde para se proteger do novo coronavírus.

Pré-pandemia, os japoneses já eram famosos por hábitos de higiene (e certa mania de limpeza), no dia a dia, dentro e fora de casa.

Após a declaração de pandemia da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2, muitos reforçaram cuidados no país, que registrou 1.953 casos (além dos 712 do navio Diamond Princess) e 56 mortes até 31 de março.

Há controvérsias, dúvidas e discussões sobre o status do surto no Japão –se o pior já passou ou está por vir, diante da alta de novos casos confirmados após o adiamento oficial da Olimpíada e o temor de um boom acelerado a partir de abril.

Também se discute o peso dos hábitos de higiene no controle de infecções: à imprensa internacional, infectologistas como Sachio Miura, da Universidade de Nagasaki, indicaram que os costumes têm ajudado a controlar a disseminação do vírus; outros especialistas, como Kentaro Iwata, da Universidade de Kobe, ponderaram que apenas a cultura não é resposta para compreender o diminuto número de casos de contágio no Japão.

“Baixo número de testes = baixo número de casos. Não é difícil de entender”, sintetiza um post no Facebook. “Máscaras, mãos limpas, banho todo dia e menos contato físico. Não é difícil de entender”, aposta outro, no Twitter.

Na dúvida, manter as mãos limpas não faz mal a ninguém. Eis cinco costumes nipônicos, antes e durante a pandemia:

1. Ojigi

“Ojigi” é a reverência japonesa, um gesto de gentileza, curvando-se para cumprimentar os outros. Feita em diferentes inclinações, vale para saudações como “oi”, “obrigada” e “bom dia”, além de pedidos de desculpas e demonstrar respeito. Aqui não são comuns cumprimentos com beijos, abraços ou aperto de mão. Diante das orientações para evitar contato físico, é uma alternativa interessante.

Entretanto, o distanciamento também tem episódios extremos. Conforme reportou o jornal The Japan Times, entrever alguém tossir se tornou motivo de olhares tortos, terror e até brigas –a tendência foi batizada de “corohara” na imprensa japonesa (“coronavirus harassment”, em inglês; algo como “coronassédio”, em português).

Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons - 2007)
Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons – 2007)

2. Masuku

Desde o surto da Sars (em 2003) e da epidemia de H1N1 (em 2009), máscaras (“masuku”) se tornaram itens comuns no dia a dia dos japoneses. Além de proteger as vias nasais para amenizar alergias (como o “kafunsho”, a hipersensibilidade ao pólen, que atinge um quinto da população do país), a peça passou a ser usada independentemente das estações, como acessório “fashion”, com detalhes e diferentes estampas, para esconder imperfeições do rosto e até para dar a sensação de conforto e confiança a quem a veste.

Máscaras são aliadas no combate ao Sars-CoV-2, pois uma das principais vias transmissão do vírus são as gotículas de saliva. Entretanto, especialistas divergem sobre a necessidade do uso o tempo todo: a OMS diz que as peças devem ser usadas apenas por pessoas que estejam tossindo ou espirrando, ou por quem esteja cuidando de alguém infectado ou sob suspeita de Covid-19. Aqui, elas esgotaram nos mercados no início do surto, deixando muita gente desmascarada.

3. Tisshu

É comum andar com acessórios como lenços, lenços umedecidos ou toalhinhas a tiracolo, no bolso, na bolsa e no carro, para imprevistos fora de casa, como um eventual espirro –dentro de um banheiro preferencialmente, pois assoar o nariz em público é considerado extremamente rude, embora certamente aconteça. Há diversas marcas de “tisshu” (palavra derivada do inglês, “tissue”), o lencinho de papel fino, flexível e descartável, com embalagens e caixinhas coloridas.

Antes, era comum encontrar pequenos pacotes de lencinhos como brindes na entrada de empresas, além de spray desinfetante para as mãos. Hoje, nem tanto: ao lado do papel higiênico, o lencinho de papel esgotou nos mercados japoneses, após se alastrar uma fake news que dizia que a matéria-prima vinha da China, primeiro epicentro do coronavírus, o que afetaria a produção.

Alunos da escola primária limpando os corredores da escola, em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas - 2015)
Alunos limpando corredores de escola em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas – 2015)

4. Sōji

Torcedores japoneses recolhendo lixo das arquibancadas dos estádios após os jogos na Copa do Mundo no Brasil (2014) e na Rússia (2018), estudantes e crianças varrendo corredores e lavando banheiros nos colégios. Os gestos, que foram destaque na mídia mundo afora, refletem a cultura japonesa de não deixar nada para trás, da importância de limpar lugares por onde se passa antes de ir embora –em outras palavras, “nós sujamos, nós limpamos”.

“Sōji” pode ser traduzido como faxina, incluindo atividades coletivas em estádios, escolas, escritórios, fábricas e templos. Aqui, é raro encontrar lixeiras nas ruas, impressionantemente limpas, pois o lixo é considerado responsabilidade de quem o produz. Tomou um café e não há onde jogar o copo? Carregue-o até encontrar uma lata de lixo; se não encontrar, leve-o para a lixeira de casa. Toda casa japonesa recebe um calendário colorido e uma cartilha com as regras para a coleta superseletiva do país. Em tempos de pandemia, menos lixo bagunçado pode significar menos risco para quem faz a limpeza urbana.

5. Genkan

Lares japoneses (casas e apartamentos, antigos ou novos, mas de estilo tradicional) possuem um “genkan”, um tipo de degrau na porta principal, onde deve-se tirar e deixar os sapatos para entrar apenas de meias ou vestir pantufas ou chinelos especiais, as “suripas”. O hábito vale para a própria residência e a dos outros, além de muitos hotéis, escritórios e colégios. A ideia é delimitar o lado de fora e o de dentro, a fim de evitar que a sujeira da rua entre em casa.

Esta é uma das indicações presentes no “protocolo boliviano” que viralizou nos últimos dias. Entretanto, conforme revelou reportagem publicada nesta Folha, o documento tinha exageros e erros. Tirar os sapatos não impede o coronavírus, mas a diretriz deveria ser seguida no dia a dia para evitar a contaminação por outros microorganismos.

Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar em casa (Wikimedia Commons)
Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar (Wikimedia Commons)
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Isto não é um símbolo nazista https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/#respond Thu, 20 Feb 2020 08:00:43 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/2460877397_eb0a8768da_c-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=31 De Toyohashi (Japão)

Aviso aos navegantes: isto não é um símbolo nazista.

“Manji” (卍) é a suástica japonesa budista, um símbolo de sorte e paz, presente em diversas cidades deste lado do mundo. É inclusive o ícone para sinalizar templos budistas nos mapas do Japão, onde há mais de 45 milhões de adeptos e 75 mil templos, santuários e outras organizações budistas.

Suástica vem do sânscrito “svtika”, que quer dizer busca de bem-estar. A cruz gamada marcou diversas culturas, dos antigos gregos aos astecas, muito antes de ser “sequestrada” pelos nazistas – um dos registros mais antigos data do século 7 a.C., uma peça de cerâmica descoberta no Oriente Médio, atualmente exposta no Museu do Louvre, na França.

Já a versão virada 45 graus à direita, a cruz negra dentro de um disco branco e um fundo vermelho, foi estilizada como emblema oficial do 3o Reich de Adolf Hitler, na década de 1930. A insígnia “Hakenkreuz” ficou tão marcada, historicamente associada às barbaridades nazistas, que hoje é proibida por lei em diversos países. No Brasil, fabricar, distribuir ou divulgar o distintivo como apologia ao nazismo é crime e pode render até cinco anos de prisão.

Enquanto a suástica nazista se tornou símbolo de ódio, a suástica budista é paz e amor. Em 2016, entretanto, autoridades japonesas fizeram uma consulta pública à sociedade sobre a possibilidade de riscar o “manji” dos mapas turísticos, substituindo-o por uma ilustração de pagode (um estilo de templo) para não provocar confusões ou ferir a sensibilidade de visitantes desavisados durante os Jogos de Tóquio-2020.

Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)
Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)

Na época foram mobilizadas campanhas pró-manji na internet. “É um símbolo sagrado no hinduísmo e no budismo. Está aí há milhares de anos, enquanto a ‘Hakenkreuz’ existe há menos de 100. Dar prioridade ao símbolo associado ao nazismo e à supremacia branca, ao decidir se o manji’ japonês deve ficar ou não, é absurdo e desrespeitoso”, dizia um dos abaixo-assinados digitais.

“Antes da chegada dos visitantes e das primeiras minicrises de ‘por que tem uma suástica no templo?!’ dos turistas, vamos informar. Poste artigos sobre o assunto, compartilhe petições, use esses e outros recursos para iniciar conversas. Para o bem da herança cultural do Japão e de seus visitantes, espalhe a palavra”, registrou à época a escritora canadense Helen Langford-Matsui, radicada na província de Kanagawa, no jornal Japan Times.

Após a consulta, martelou-se: a suástica budista fica. Presente em ruas, templos, monumentos, estações e cemitérios, o ícone continua a ilustrar mapas turísticos e Google Maps. Aos marinheiros de primeira viagem, portanto, não custa lembrar: isto 卍 não é um símbolo nazista.

Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
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