NipOlimpíada https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br Tóquio-2020 e outras histórias Mon, 20 Apr 2020 05:24:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Japão demorou para acordar para pandemia, diz autor https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/japao-demorou-para-acordar-para-pandemia-diz-autor/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/japao-demorou-para-acordar-para-pandemia-diz-autor/#respond Mon, 20 Apr 2020 05:01:34 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/maria-krasnova-kuQMDsE91HU-unsplash.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=279 De Toyohashi (Japão)

Taggart Murphy desembarcou no aeroporto internacional de Narita, Tóquio, em 25 de março –um dia após o anúncio do adiamento da Olimpíada, um dia antes de valer a quarentena imposta a viajantes vindos dos Estados Unidos. 

Murphy, 67, é um acadêmico americano que viveu parte da infância e da adolescência no Japão. Depois, passou quase duas décadas ininterruptas no arquipélago, como professor da Universidade de Tsukuba, campus de Tóquio. 

No fim de 2019, já aposentado, o acadêmico voltou para os Estados Unidos, mas, após o início da pandemia de Covid-19, decidiu cruzar o mundo de novo para “passar a tempestade” junto à sua família que está no Japão. 

Autor de “Japan and the shackles of the past (what everyone needs to know)” (Japão e os elos do passado –o que todo mundo precisa saber, em tradução livre, Oxford University Press, 2014), Murphy escreve na atual edição da revista New Left Review sobre a experiência asiática, especialmente japonesa, no controle do novo coronavírus. 

Nesta entrevista exclusiva ao blog, discute história, política e a incógnita nipônica: por que o arquipélago, atingido pelo coronavírus em janeiro, demorou para ver uma escalada explosiva de casos, o que está acontecendo agora, em abril?

Professor Murphy, o Japão foi elogiado por controlar o avanço do novo coronavírus. Por outro lado, foi criticado por não realizar testes numerosos e acusado de querer camuflar números para viabilizar a Olimpíada. Sob pressões e só recentemente, o país declarou estado de emergência. Como analisa a situação japonesa?

O Japão não agiu proativamente como outros países asiáticos, como China, Coreia do Sul e Cingapura, que tomaram medidas diferentes, mas agressivas: na China, lockdown rigoroso; na Coreia do Sul, muitos testes; Cingapura, Hong Kong e Taiwan instauraram imediatamente restrições rigorosas a viagens internacionais. O Japão não fez nada disso no início do surto. Mas, até agora, o país não viveu uma explosão de casos e de mortes, como na Itália e agora nos Estados Unidos. 

Diversas hipóteses foram levantadas sobre os números japoneses. Primeiro, a realização mínima de exames, como reportou o jornalista americano Jake Adelstein no Asia Times, citando o depoimento em off de um oficial do Ministério da Saúde, para “manter os números baixos e fazer o possível para que tudo pareça ‘sob controle'”.

Segundo o depoimento, a estratégia era literalmente focar no tratamento de casos graves e impedir corridas a hospitais, na expectativa de que casos leves fossem resolvidos por conta própria sem necessidade de diagnóstico e internação. Em outras palavras, a maioria dos infectados iria se recuperar sozinhos, graças a seus sistemas imunológicos, reservando à minoria dos infectados a excelente infraestrutura para tratamento de pneumonia (uma das complicações mais sérias do novo coronavírus). 

Segundo, a possibilidade de subnotificação deliberada de casos. Entretanto, você consegue subnotificar casos, mas não consegue esconder corpos –neste contexto, testando, tendo casos ou não, não houve aumento dramático no índice de mortalidade de país, onde idosos são quase 30% da população. Como se explica isso? 

Terceiro, as ideias de que cultura, estilo de vida (como uso de máscaras há bastante tempo) ou hábitos de higiene básica bastariam para conter o avanço do vírus no país. No entanto, se essa especulação valia até fins de março, a partir de abril o número de diagnósticos subiu dramaticamente. De novo, como se explica isso? 

Ninguém tem a resposta. E os que sabem, nos bastidores do governo, não comentam. De todo modo, após o adiamento da Olimpíada, que teoricamente iria coroar o tempo de Shinzo Abe como primeiro-ministro, o governo passou a expressar sinais de preocupação publicamente, pela primeira vez, de que as coisas podem sair do controle. 

Enquanto Jair Bolsonaro vem sendo criticado por negar a gravidade da pandemia, Shinzo Abe foi criticado por silenciar diante dela. Vê paralelos entre Brasil e Japão?

Brasil e Estados Unidos são ótimos exemplos de negação da gravidade do vírus por bastante tempo, e o resultado está sendo visto agora, com a escalada de casos registrados e de mortes. 

No Japão, há outra questão subjacente: a falta de certa autoridade nas decisões políticas do país. Aqui, o poder é fraturado e excepcionalmente fraco diante dos padrões globais. O peso político de Shinzo Abe é diferente do de Boris Johnson, no Reino Unido, que é um sistema similar de parlamentarismo, por exemplo. A influência para implementar medidas é muito diferente. 

Abe só declarou estado de emergência após diversas pressões, inclusive de governadores implorando para instaurar ações mais fortes. Entretanto, o estado de emergência japonês não tem implicações legais, na verdade. Isto é, a declaração garante a governadores a prerrogativa de “pedir fortemente” para a população adotar certos comportamentos, como evitar aglomerações ou deixar de ir a bares e casas de shows, mas a polícia não pode intervir, não pode atribuir multas a quem abrir negócios ou estiver zanzando por aí.  

O Japão é um laboratório político fascinante. Pensando nos paralelos com Brasil, Estados Unidos, Europa, aqui o alinhamento político está curiosamente invertido. Em geral, a direita diz que os governos estão exagerando ou indo longe demais nas diretrizes de lockdown e quarentena, como se a pandemia fosse uma “armadilha” imaginada pela esquerda; a esquerda, por sua vez, diz que precisamos fazer o possível para preservar as vidas, respeitando as restrições de movimento ao máximo. 

No Japão é o contrário: alas da direita conservadora defendem que esta é a hora de revisar a Constituição e dar mais poder ao primeiro-ministro, parar o país e impor regras rigorosas de isolamento; enquanto setores da esquerda progressista ponderam e alertam aos riscos de repressão e de flertar com políticas autoritárias, atropelando direitos. Mas, como a polarização política japonesa não é acirrada como em outros países, esses embates existem, mas não são muito discutidos agressivamente. Se lá fora há expectativa de convulsões sociais e tudo mais, aqui dificilmente isso vai acontecer.

O gesto de autoridades de “pedir” para a população evitar aglomerações, como indica o estado de emergência, é o bastante?

Historicamente, a coesão social é muito forte no Japão. O poder da pressão social é singular: tende-se a não confrontar, mas seguir as regras da sociedade, não necessariamente impostas por um ou outro governante. É parte da “administração da realidade”, termo cunhado pelo jornalista holandês  Karel van Wolferen, autor de “The enigma of Japanese power: people and politics in a stateless nation” [o enigma do poder japonês: povo e política em uma nação sem estado, em tradução livre, Vintage Books, 1989]

A administração da realidade consiste em um conjunto de instituições e práticas que pressionam para garantir um certo comportamento dos japoneses, previsível e que não deixa margem para contradições ou contestações. Diversas instituições, incluindo imprensa, mercado e política, contribuem para a construção dessa realidade. É um consenso implícito, um conjunto de regras não ditas: todo mundo “simplesmente sabe” que deve ser assim ou assado. 

O que se vê agora é a arte da administração da realidade: o estado de emergência só vai funcionar se prevalecer o consenso de que a crise do novo coronavírus está entre nós, para que todo mundo veja e aceite que é preciso tomar atitudes em certa direção.

Exemplo: o primeiro surto aqui aconteceu em Hokkaido. No fim de fevereiro, foi a primeira província a declarar estado de emergência [que se encerrou em 19 de março; a nova declaração, que vale para o país todo, se iniciou em 16 de abril]. Hokkaido conseguiu conter o avanço do vírus, sem imposições legais, quer dizer, funcionou o “pedido” de suspensão de atividades não-essenciais, como colégios, casas de show etc. A política funcionou no primeiro momento, derrubando o número de novos casos por dia ali. 

No livro, o sr. diz que a política japonesa é basicamente reativa. Qual é o impacto desta tradição diante de crises como a atual?

Sim, historicamente, a política japonesa é reativa. O lado negativo é a demora para reagir a crises, agarrando-se à ideia de que está tudo sob controle até o último minuto, como na crise do petróleo de 1973, na crise financeira internacional de 2008 e no desastre de Fukushima de 2011. A crise atual é outro exemplo. 

O lado positivo, que a história japonesa também mostra, é que, quando uma crise se torna clara, cristalina e inegável, quando uma realidade se impõe mostrando riscos realmente altos, a coesão social é forte o bastante para fazer o país mudar drasticamente de diretrizes e reagir com eficiência. 

Foi o que aconteceu, por exemplo, na reconstrução japonesa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o famoso “milagre econômico”, na resposta às crises de 1973, 1979 e 2008 –apesar dos abalos, que não foram pequenos, o Japão ainda é a terceira maior economia do mundo. Por isso, inclusive, digo que prefiro estar aqui se as coisas ficarem realmente feias, se o vírus fugir do controle, colapsando totalmente sistemas de saúde no mundo inteiro. 

Contudo, aqui ainda não há consenso se essa hora já chegou. O que falta agora é finalmente acordar para a pandemia. É como se eles estivessem ponderando: “nós sabemos que o novo coronavírus é sério, mas ainda não é gripe espanhola” ou “é ruim, mas ainda não é tão ruim assim”, vamos dizer. Isto é, como se estivessem incertos sobre o quão grave é especificamente no território japonês, e esse tipo de incerteza é o obstáculo para reagir mais agressivamente. 

É brutal, mas até agora vem prevalecendo um pensamento de análise de riscos, do que está em jogo: vale parar tudo, talvez instaurar o caos, para preservar a vida de 20 ou 30 mil octogenários que vão morrer sozinhos nos próximos cinco anos? Obviamente, faz parte do não dito: ninguém vai dizer isso publicamente. 

O livro destaca como o Japão construiu historicamente uma identidade nacional, uma nação à parte do mundo –isolada, como uma ilha. Isso influencia o tratamento a imigrantes no país?

O Japão não abrirá portas para grandes contingentes de imigrantes tão cedo, penso, considerando a história do país. A falta de mão de obra é um problema econômico e um problema demográfico, mas não vejo nenhuma possibilidade de abertura maior a imigrantes.

Até agora, a política para atrair mão de obra tem privilegiado descendentes diretos de japoneses, na expectativa de que os estrangeiros sejam assimilados e não provoquem confusões, o que também tem a ver com a tal coesão social tão forte no país. É até um tipo de ingenuidade dos japoneses, mas eles esperam que os nikkeis nascidos no Brasil, por exemplo, podem se revelar “mais japoneses” e “menos brasileiros” pelo simples fenótipo.

É um pouco diferente para imigrantes caucasianos, como eu, que sou visivelmente não japonês e nem sequer descendente distante. Digo que se você consegue ser feliz como um “outsider”, o Japão é um lugar maravilhoso para viver. Meu companheiro é japonês, muitos de meus amigos mais próximos são japoneses. Mas eu sei que eu sempre serei visto como estrangeiro, como um “gaijin”.

‘Japan and the shackles of the past’ (Oxford, 2014)
‘Japan and the shackles of the past’ (Oxford, 2014)
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5 hábitos de higiene no Japão (antes e durante a pandemia de Covid-19) https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/01/5-habitos-de-higiene-no-japao-antes-e-durante-a-pandemia-de-covid-19/#respond Thu, 02 Apr 2020 01:27:10 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/tore-f-9OEDisIbOUM-unsplash.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=174 De Toyohashi (Japão)

Bons hábitos de higiene, como manter as mãos sempre limpas (com água e sabão ou álcool em gel de concentração de pelo menos 60%), cobrir a boca ao tossir e espirrar (com a dobra do cotovelo ou lenços descartáveis) e manter distância de no mínimo 2 metros de quem estiver tossindo e espirrando estão entre as principais recomendações das autoridades de saúde para se proteger do novo coronavírus.

Pré-pandemia, os japoneses já eram famosos por hábitos de higiene (e certa mania de limpeza), no dia a dia, dentro e fora de casa.

Após a declaração de pandemia da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2, muitos reforçaram cuidados no país, que registrou 1.953 casos (além dos 712 do navio Diamond Princess) e 56 mortes até 31 de março.

Há controvérsias, dúvidas e discussões sobre o status do surto no Japão –se o pior já passou ou está por vir, diante da alta de novos casos confirmados após o adiamento oficial da Olimpíada e o temor de um boom acelerado a partir de abril.

Também se discute o peso dos hábitos de higiene no controle de infecções: à imprensa internacional, infectologistas como Sachio Miura, da Universidade de Nagasaki, indicaram que os costumes têm ajudado a controlar a disseminação do vírus; outros especialistas, como Kentaro Iwata, da Universidade de Kobe, ponderaram que apenas a cultura não é resposta para compreender o diminuto número de casos de contágio no Japão.

“Baixo número de testes = baixo número de casos. Não é difícil de entender”, sintetiza um post no Facebook. “Máscaras, mãos limpas, banho todo dia e menos contato físico. Não é difícil de entender”, aposta outro, no Twitter.

Na dúvida, manter as mãos limpas não faz mal a ninguém. Eis cinco costumes nipônicos, antes e durante a pandemia:

1. Ojigi

“Ojigi” é a reverência japonesa, um gesto de gentileza, curvando-se para cumprimentar os outros. Feita em diferentes inclinações, vale para saudações como “oi”, “obrigada” e “bom dia”, além de pedidos de desculpas e demonstrar respeito. Aqui não são comuns cumprimentos com beijos, abraços ou aperto de mão. Diante das orientações para evitar contato físico, é uma alternativa interessante.

Entretanto, o distanciamento também tem episódios extremos. Conforme reportou o jornal The Japan Times, entrever alguém tossir se tornou motivo de olhares tortos, terror e até brigas –a tendência foi batizada de “corohara” na imprensa japonesa (“coronavirus harassment”, em inglês; algo como “coronassédio”, em português).

Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons - 2007)
Jovens japonesas vestindo máscaras estilizadas (iMorpheus/Flickr/Creative Commons – 2007)

2. Masuku

Desde o surto da Sars (em 2003) e da epidemia de H1N1 (em 2009), máscaras (“masuku”) se tornaram itens comuns no dia a dia dos japoneses. Além de proteger as vias nasais para amenizar alergias (como o “kafunsho”, a hipersensibilidade ao pólen, que atinge um quinto da população do país), a peça passou a ser usada independentemente das estações, como acessório “fashion”, com detalhes e diferentes estampas, para esconder imperfeições do rosto e até para dar a sensação de conforto e confiança a quem a veste.

Máscaras são aliadas no combate ao Sars-CoV-2, pois uma das principais vias transmissão do vírus são as gotículas de saliva. Entretanto, especialistas divergem sobre a necessidade do uso o tempo todo: a OMS diz que as peças devem ser usadas apenas por pessoas que estejam tossindo ou espirrando, ou por quem esteja cuidando de alguém infectado ou sob suspeita de Covid-19. Aqui, elas esgotaram nos mercados no início do surto, deixando muita gente desmascarada.

3. Tisshu

É comum andar com acessórios como lenços, lenços umedecidos ou toalhinhas a tiracolo, no bolso, na bolsa e no carro, para imprevistos fora de casa, como um eventual espirro –dentro de um banheiro preferencialmente, pois assoar o nariz em público é considerado extremamente rude, embora certamente aconteça. Há diversas marcas de “tisshu” (palavra derivada do inglês, “tissue”), o lencinho de papel fino, flexível e descartável, com embalagens e caixinhas coloridas.

Antes, era comum encontrar pequenos pacotes de lencinhos como brindes na entrada de empresas, além de spray desinfetante para as mãos. Hoje, nem tanto: ao lado do papel higiênico, o lencinho de papel esgotou nos mercados japoneses, após se alastrar uma fake news que dizia que a matéria-prima vinha da China, primeiro epicentro do coronavírus, o que afetaria a produção.

Alunos da escola primária limpando os corredores da escola, em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas - 2015)
Alunos limpando corredores de escola em Okazaki (Marcelo Hide/Fotos Públicas – 2015)

4. Sōji

Torcedores japoneses recolhendo lixo das arquibancadas dos estádios após os jogos na Copa do Mundo no Brasil (2014) e na Rússia (2018), estudantes e crianças varrendo corredores e lavando banheiros nos colégios. Os gestos, que foram destaque na mídia mundo afora, refletem a cultura japonesa de não deixar nada para trás, da importância de limpar lugares por onde se passa antes de ir embora –em outras palavras, “nós sujamos, nós limpamos”.

“Sōji” pode ser traduzido como faxina, incluindo atividades coletivas em estádios, escolas, escritórios, fábricas e templos. Aqui, é raro encontrar lixeiras nas ruas, impressionantemente limpas, pois o lixo é considerado responsabilidade de quem o produz. Tomou um café e não há onde jogar o copo? Carregue-o até encontrar uma lata de lixo; se não encontrar, leve-o para a lixeira de casa. Toda casa japonesa recebe um calendário colorido e uma cartilha com as regras para a coleta superseletiva do país. Em tempos de pandemia, menos lixo bagunçado pode significar menos risco para quem faz a limpeza urbana.

5. Genkan

Lares japoneses (casas e apartamentos, antigos ou novos, mas de estilo tradicional) possuem um “genkan”, um tipo de degrau na porta principal, onde deve-se tirar e deixar os sapatos para entrar apenas de meias ou vestir pantufas ou chinelos especiais, as “suripas”. O hábito vale para a própria residência e a dos outros, além de muitos hotéis, escritórios e colégios. A ideia é delimitar o lado de fora e o de dentro, a fim de evitar que a sujeira da rua entre em casa.

Esta é uma das indicações presentes no “protocolo boliviano” que viralizou nos últimos dias. Entretanto, conforme revelou reportagem publicada nesta Folha, o documento tinha exageros e erros. Tirar os sapatos não impede o coronavírus, mas a diretriz deveria ser seguida no dia a dia para evitar a contaminação por outros microorganismos.

Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar em casa (Wikimedia Commons)
Genkan, área onde se deve tirar os sapatos antes de entrar (Wikimedia Commons)
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Rumo a Tóquio, pira olímpica vai cruzar mais de 850 cidades japonesas https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/#respond Thu, 19 Mar 2020 10:15:21 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Aris-MessinisReuters-300x215.jpeg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=109 De Toyohashi (Japão)

A 127 dias dos Jogos de Tóquio de 2020, a chama olímpica foi entregue pelos gregos aos japoneses na manhã desta quinta (19), a portas fechadas no estádio de Atenas, marco do início dos Jogos Olímpicos na era moderna, de 1896.

Amanhã a pira deve desembarcar na base da Força Aérea do Japão na cidade de Higashi Matsushima, na província de Miyagi.

No arquipélago asiático, onde foram registrados mais de 1.500 casos de Sars-Cov-2 (incluindo os casos do cruzeiro Diamond Princess), a tocha teoricamente passará pelas mãos de 10 mil “mensageiros” olímpicos a partir de 26 de março, percorrendo 859 cidades das 47 províncias japonesas ao longo de 121 dias, culminando com a cerimônia da abertura da Olimpíada, marcada para 24 de julho até segunda ordem.

Se nos Jogos de 2016 o público se acotovelava para ver a tocha, escoltada por cordões humanos ao cruzar 26 mil km e 325 cidades até chegar no Rio, Tóquio precisou instaurar outros protocolos.

Forças-tarefas de cada província ainda vão divulgar detalhes sobre a passagem da tocha (incluindo se os eventos sequer serão inteiramente abertos ao público). Segundo informe da assessoria de imprensa da Tóquio-2020, os anúncios serão feitos no mínimo sete dias antes de cada parada.

“As situações estão mudando de hora em hora”, abreviou o diretor executivo Toshiro Muto. Até agora, organizadores estão desencorajando a presença de fãs nas passagens da tocha no mínimo neste mês, em Fukushima, Tochigi e Gunma.

Entretanto, no embalo de “não há necessidade de decisões drásticas”, expressão do comunicado de 17 de março do Comitê Olímpico Internacional, Muto pediu para “evitar multidões” no percurso posterior, mas não definiu o que compreende por multidões, um número máximo de espectadores ou uma margem para garantir a segurança de todos.

“Não queremos que as pessoas pensem que é um pedido absoluto de abstenção. Portanto, basicamente depende da sua interpretação”, disse à imprensa internacional nesta terça.  

Já foram alterados eventos e exibições especiais pré-revezamento entre 20 e 25 de março, no trajeto entre Miyagi, Iwate e Fukushima, as três províncias atingidas pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear de 2011, que inspiram o slogan “jogos da reconstrução” da Tóquio-2020.

Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis - 12.mar.2020:Reuters)
Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis – 12.mar.2020/Reuters)

Símbolo olímpico, a chama remete à lenda do titã Prometeu, que contrariou o poderoso Zeus e roubou o fogo dos deuses para dá-los a nós, meros mortais.

Na Grécia antiga, mensageiros cruzavam cidades para anunciar os torneios e a trégua olímpica, que era capaz de interromper impasses e conflitos. Desde os Jogos de Berlim de 1936, atletas se revezam na condução da pira de Olímpia, berço dos primeiros Jogos Olímpicos, rumo aos anfitriões da vez.

Além de atletas, ex-atletas, anônimos e personalidades passaram a incorporar o tour da tocha, que já se aventurou a cavalo e camelo, a bordo de aviões, navios, barco-dragão (de Hong Kong, nos Jogos de Pequim, em 2008) e até nave espacial (a russa Soyuz, nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014).

“Hope lights our way” (“esperança ilumina nosso caminho”, em tradução livre) é o mote da trajetória da tocha, cujo design foi inspirado pelas simbólicas cerejeiras, rumo a Tóquio. Mas, no meio do caminho, há um vírus. Até agora, sem sinal de trégua olímpica.

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