NipOlimpíada https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br Tóquio-2020 e outras histórias Mon, 20 Apr 2020 05:24:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 De #Tóquio2021 a #FujaDeTóquio: 5 hashtags da crise de Covid-19 no Japão https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/de-toquio2021-a-fujadetoquio-5-hashtags-da-crise-de-covid-19-no-japao/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/de-toquio2021-a-fujadetoquio-5-hashtags-da-crise-de-covid-19-no-japao/#respond Wed, 08 Apr 2020 02:31:06 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Akira.jpeg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=210 De Toyohashi (Japão)

Mais de 70 dias após o primeiro caso confirmado de Covid-19 no Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência nesta terça (7). Com duração de um mês, a medida vale para sete províncias: Tóquio, Chiba, Fukuoka, Hyogo, Kanagawa, Osaka e Saitama.

Segundo a lei japonesa, o estado de emergência não prevê impor lockdown (confinamento) como em outros países –Tóquio, a maior metrópole do mundo, é uma das poucas megacidades que não aderiu ao isolamento para conter o avanço do novo coronavírus. Mas a declaração garante a governadores a possibilidade de “pedir” que a população fique em casa.

Colégios, cinemas, bares, baladas, museus e lojas de departamento devem ter uso limitado ou suspenso. Farmácias, supermercados e serviços básicos como fornecimento de luz, internet, gás e água continuam funcionando normalmente.

Foi-se, porém, impressão de “normalidade”. Até agora o país foi menos afetado pela pandemia que Europa, Estados Unidos e Brasil, mas, desde fins de março, após o adiamento da Olimpíada (remarcada para 2021), o número de novos casos aumentou consideravelmente: em dez dias, saltou de 1.693 casos e 52 mortes (em 28 de março) para 3.654 casos e 85 mortes (em 6 de abril), segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

Até dia 6 de abril, as dez das 47 províncias japonesas com mais casos eram Tóquio (1.116), Osaka (423), Chiba (283), Kanagawa (239), Aichi (239), Hyogo (215), Saitama (201), Hokkaido (194), Fukuoka (162) e Quioto (126).

Foi um longo caminho até a declaração, sob pressões de políticos (como os governadores Herofumi Yoshimura, de Osaka, e Yuriko Koike, de Tóquio), empresários (como Masayoshi Son e Hiroshi Mikitani, magnatas da indústria da tecnologia), especialistas (incluindo Yoshitake Yokokura, presidente da Japan Medical Association), famosos e anônimos.

Estas cinco hashtags, trending topics (assuntos mais comentados) no Twitter, marcaram momentos-chave e ajudam estrangeiros a entender a cronologia da crise de Covid-19 no Japão:

#JustCancelIt

Ao longo de fevereiro, o número de casos confirmados pulou de 20 para 241. Na época, a situação parecia sob controle –tanto que organizadores e autoridades asseguraram a continuidade do calendário e afastaram rumores de cancelamento da Olimpíada na capital japonesa por conta do surto de coronavírus, um discurso que se arrastou por meses.

Entretanto, no Twitter japonês já subia a hashtag #JustCancelIt (“apenas cancele”), referência ao clássico mangá “Akira”, de Katsuhiro Otomo, publicado na década de 1980. Na história, Tóquio é destruída na Terceira Guerra Mundial e, reconstruída como Neo-Tóquio, será sede da Olimpíada de 2020.

Um dos quadrinhos mostra o número 147 na contagem regressiva até os Jogos, o equivalente a 28 de fevereiro deste ano. Ao lado do painel está pichado “chuushu da chuushi”, que pode ser traduzido como “cancele, apenas cancele”.

 

#Tokyo2021

Atletas de diversas nacionalidades, como o nadador brasileiro Nicholas Santos, o decatleta americano Ashton Eaton e o triatleta espanhol Fernando Alarza, publicaram posts com a hashtag #Tokyo2021 ao longo de março, endossando o movimento de federações e comitês pedindo o adiamento dos Jogos Olímpicos.

Em 24 de março, o Comitê Olímpico Internacional anunciou o adiamento para 2021, fato inédito na história olímpica moderna. Após a decisão, o país registrou uma escalada de novos casos: 114 em 25 de março, 225 em 28 de março, 317 em 2 de abril, 522 em 4 de abril.

 

#StayHomeJapan

Após a alta de casos de fins de março, anônimos e famosos passaram a divulgar a campanha digital #StayHome (“fique em casa”) no país –pela primeira vez, meses após o início do surto.

O músico japonês Yoshiki Hayashi é um dos mais ativos: além de tuítes, gravou a música “Sing for Life” em apoio às quarentenas internacionais, com Bono Vox (do U2), Jennifer Hudson e will.i.am (rapper do Black Eyed Peas).

A artista japonesa Masora Fukuda, que vive nos Estados Unidos, publicou o vídeo “Dear me 10 Days ago – US to Japan”, uma colagem de depoimentos de seus amigos americanos, endereçada aos jovens japoneses, destacando o quanto a situação dos surtos pode se agravar e chamando a atenção para a importância da quarentena.

 

#AbeNoMask

Apesar das pressões e dos recordes de novos casos, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou ao parlamento que não era a hora de declarar estado de emergência em 2 de abril. “Por enquanto, as infecções estão sob controle”, justificou.

Enquanto líderes de diversos países instauravam quarentenas e restrições de movimento, Abe anunciou uma medida inusitada para controlar o avanço do vírus: a distribuição de duas máscaras reutilizáveis por casa japonesa até o fim de abril. Há cerca de 50 milhões de residências e 127,3 milhões de habitantes no país.

O premiê se tornou alvo de críticas, como descreveu o jornalista japonês Tomohiro Osaki, por lançar uma proposta muito aquém das medidas esperadas do Estado diante da grave crise. “É uma brincadeira de 1o de abril?”, tuitou o escritor japonês Naoki Hyakuta.

A internet não perdoou: no Twitter, viralizou a hashtag #AbeNoMask (“máscara de Abe”) e diversos memes, como montagens com o premiê vestindo duas máscaras, uma delas cobrindo os olhos –lembra a icônica imagem do presidente Jair Bolsonaro tentando ajeitar a peça no rosto, durante entrevista à imprensa no Brasil.

 

#EscapeTokyo

Após a declaração de estado de emergência, em 7 de abril, uma tendência inusitada se instalou: ao invés de aumentar o apoio a campanhas pró-isolamento social, o simples “fique em casa”, #EscapeTokyo (“fuja de Tóquio”) subiu aos trending topics do Twitter no Japão.

A ideia é sair da capital, o atual foco, cuja área metropolitana abriga 35 milhões de pessoas, e ir para a casa da família ou de amigos no interior para se isolar –o que pode implicar deslocamentos, viagens e, voilà, novas infecções.

“Isso só vai espalhar o vírus”, alertou o médico Nobuhiko Okabe, um dos integrantes do painel de especialistas do governo japonês, segundo a agência Reuters. “É preciso aguentar. Não devemos nos apressar para ir embora”, disse.

Em outras palavras: não é hora de fugir, mas de ficar em casa, pelo bem de todos, arquipélago adentro e mundo afora.

 

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Anticlímax, compreensão e memes marcam Tóquio-2020, adiada para 2021 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/25/anticlimax-compreensao-e-memes-marcam-toquio-2020-agora-2021/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/25/anticlimax-compreensao-e-memes-marcam-toquio-2020-agora-2021/#respond Wed, 25 Mar 2020 07:40:13 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/15850767345e7a59feacc3f_1585076734_3x2_lg.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=138 De Toyohashi (Japão)

É oficial. Depois de dias quicando, o Comitê Olímpico Internacional cravou: os Jogos Olímpicos de Tóquio ficaram para 2021.

É a primeira vez na história olímpica moderna que uma edição dos Jogos muda para outro ano –três foram canceladas (1916, 1940 e 1944), devido às Guerras Mundiais.

Além das pressões internacionais, de federações de atletas, jornalistas e políticos, o adiamento era esperado no Japão: 69,9% dos japoneses ouvidos pela enquete da agência Kyodo, no início do mês, não contavam com que a Olimpíada ocorresse de fato neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus.

Diante do anticlímax, apesar de certo desapontamento, o clima predominante é de compreensão e manifestações de apoio (e até de alívio) na imprensa e na internet.

Organizadores da Tóquio-2020 (ou Tóquio-2021, se decidirem atualizar o título oficial dos jogos) vão se reunir no dia 30, na Japan Sport Olympic Square, o QG administrativo na capital japonesa, para discutir os próximos passos.

É incerto se os Jogos serão rebatizados, visto que a marca foi consolidada, junto a patrocinadores, produtos e público desde a escolha da capital japonesa como sede, em setembro de 2013. Mas já surgiram memes como o cartaz carimbado indicando 2021 (aqui, quando se rasura um documento oficial, é preciso destacar a errata com um carimbo pessoal, o “inkan”).

Outros publicaram fotos relacionadas à instalação de arte “Tokyo 2021”, promovida pela construtora Toda Building, que esteve em cartaz até outubro de 2019 –e que ainda detém o domínio tokyo2021.jp.

Datas, contratos, ingressos, tudo deverá ser rearranjado para o novo e indefinido calendário, inclusive o destino das instalações, já prontas, e da tocha olímpica, que está no território japonês, mas não vai mais cruzar o país a partir do dia 26.

“Tóquio-2020 pode ser a luz no fim deste túnel escuro que todos nós estamos passando juntos agora. E todos nós queremos ver a chama olímpica como a luz no final deste túnel”, declarou o dirigente alemão Thomas Bach, presidente do COI, reiterando expressões presentes na carta dirigida dias antes aos atletas olímpicos.

É difícil dizer se a metáfora é bem-vinda no momento. No último fim de semana, estendido pelo feriado de sexta-feira (20), o marco do início da primavera, mais de 50 mil pessoas se enfileiraram na estação de trem de Sendai, na província de Miyagi, para ver a pira olímpica. A aglomeração acendeu o alerta amarelo no país, que registrou outras multidões, embaladas pela atmosfera primaveril e as primeiras flores de cerejeiras.

Terça-feira (24) foi um dia decisivo. Além do anúncio do adiamento da Olimpíada e da repercussão de relatos de aglomerações arquipélago adentro, a data marcou a alta de 17 novas infecções do coronavírus em Tóquio. No fim do dia seguinte, registrou o recorde de 41 novos casos, totalizando 212.

“Cidades no mundo todo estão em ‘lockdown’ [paralisação de atividades]. Em Tóquio, há preocupações sérias de que aglomerações de indivíduos infectados levem a um aumento explosivo de casos na cidade. Se isso acontecer, não teremos escolha a não ser impor medidas rigorosas de isolamento para impedir mais infecções”, declarou a governadora Yuriko Koike.

O relógio da estação central de Tóquio, que indicava a contagem regressiva para a abertura da Olimpíada, parou no número 122. A 121 dias da festa prevista no calendário olímpico original, o relógio agora marca “25-3”, 25 de março, a data de hoje.

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Rumo a Tóquio, pira olímpica vai cruzar mais de 850 cidades japonesas https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/19/rumo-a-toquio-pira-olimpica-vai-cruzar-mais-de-850-cidades-japonesas/#respond Thu, 19 Mar 2020 10:15:21 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Aris-MessinisReuters-300x215.jpeg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=109 De Toyohashi (Japão)

A 127 dias dos Jogos de Tóquio de 2020, a chama olímpica foi entregue pelos gregos aos japoneses na manhã desta quinta (19), a portas fechadas no estádio de Atenas, marco do início dos Jogos Olímpicos na era moderna, de 1896.

Amanhã a pira deve desembarcar na base da Força Aérea do Japão na cidade de Higashi Matsushima, na província de Miyagi.

No arquipélago asiático, onde foram registrados mais de 1.500 casos de Sars-Cov-2 (incluindo os casos do cruzeiro Diamond Princess), a tocha teoricamente passará pelas mãos de 10 mil “mensageiros” olímpicos a partir de 26 de março, percorrendo 859 cidades das 47 províncias japonesas ao longo de 121 dias, culminando com a cerimônia da abertura da Olimpíada, marcada para 24 de julho até segunda ordem.

Se nos Jogos de 2016 o público se acotovelava para ver a tocha, escoltada por cordões humanos ao cruzar 26 mil km e 325 cidades até chegar no Rio, Tóquio precisou instaurar outros protocolos.

Forças-tarefas de cada província ainda vão divulgar detalhes sobre a passagem da tocha (incluindo se os eventos sequer serão inteiramente abertos ao público). Segundo informe da assessoria de imprensa da Tóquio-2020, os anúncios serão feitos no mínimo sete dias antes de cada parada.

“As situações estão mudando de hora em hora”, abreviou o diretor executivo Toshiro Muto. Até agora, organizadores estão desencorajando a presença de fãs nas passagens da tocha no mínimo neste mês, em Fukushima, Tochigi e Gunma.

Entretanto, no embalo de “não há necessidade de decisões drásticas”, expressão do comunicado de 17 de março do Comitê Olímpico Internacional, Muto pediu para “evitar multidões” no percurso posterior, mas não definiu o que compreende por multidões, um número máximo de espectadores ou uma margem para garantir a segurança de todos.

“Não queremos que as pessoas pensem que é um pedido absoluto de abstenção. Portanto, basicamente depende da sua interpretação”, disse à imprensa internacional nesta terça.  

Já foram alterados eventos e exibições especiais pré-revezamento entre 20 e 25 de março, no trajeto entre Miyagi, Iwate e Fukushima, as três províncias atingidas pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear de 2011, que inspiram o slogan “jogos da reconstrução” da Tóquio-2020.

Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis - 12.mar.2020:Reuters)
Chama de Tóquio-2020 é acesa em meio a temor de coronavírus (Alkis Konstantindis – 12.mar.2020/Reuters)

Símbolo olímpico, a chama remete à lenda do titã Prometeu, que contrariou o poderoso Zeus e roubou o fogo dos deuses para dá-los a nós, meros mortais.

Na Grécia antiga, mensageiros cruzavam cidades para anunciar os torneios e a trégua olímpica, que era capaz de interromper impasses e conflitos. Desde os Jogos de Berlim de 1936, atletas se revezam na condução da pira de Olímpia, berço dos primeiros Jogos Olímpicos, rumo aos anfitriões da vez.

Além de atletas, ex-atletas, anônimos e personalidades passaram a incorporar o tour da tocha, que já se aventurou a cavalo e camelo, a bordo de aviões, navios, barco-dragão (de Hong Kong, nos Jogos de Pequim, em 2008) e até nave espacial (a russa Soyuz, nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014).

“Hope lights our way” (“esperança ilumina nosso caminho”, em tradução livre) é o mote da trajetória da tocha, cujo design foi inspirado pelas simbólicas cerejeiras, rumo a Tóquio. Mas, no meio do caminho, há um vírus. Até agora, sem sinal de trégua olímpica.

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À espera das cerejeiras https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/a-espera-das-cerejeiras/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/a-espera-das-cerejeiras/#respond Thu, 05 Mar 2020 06:20:03 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/sora-sagano-8sOZJ8JF0S8-unsplash-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=80 De Nagoia (Japão)

A dias da esperada temporada de cerejeiras, tímidas flores já despontam nos jardins do castelo de Nagoia, na província de Aichi, no Japão. Sob a chuva fina de fins de fevereiro, visitantes, muitos mascarados, fotografam as árvores em close-up para captar as pequenas pétalas de sakura.

Quase no fim deste inverno, um dos mais amenos dos últimos anos, sakuras vão colorir o arquipélago antes do esperado. Segundo o último boletim da Japan Meteorological Corporation, as cerejeiras vão desabrochar na capital, Tóquio, durante onze dias a partir de 15 de março. Em Hiroshima, as florações estão previstas para 19 de março; em Kagoshima, ao sul, 31 de março; em Sapporo, ao norte, 30 de abril.

É a época do “hanami”, a arte de admirar as flores, uma tradição secular no Japão. Em tese, é a singela contemplação das cores das cerejeiras em flor, em diferentes tons de pink e branco. Em tempos instagramáveis, inclui festivais que movimentam mais de 60 milhões de viajantes, japoneses e estrangeiros, ávidos por fotos nos parques floridos, iluminados e tomados por piqueniques.

Entretanto, os maiores festivais de hanami, como os tradicionais de Tóquio e Osaka, foram cancelados neste ano a fim de evitar aglomerações –sim, devido ao surto do novo coronavírus, assunto que segue dominando a imprensa japonesa.

Hanami é a arte de admirar as flores de cerejeiras, uma tradição secular no Japão (Pavlo Klein/Unsplash)

Além de colégios parados, companhias priorizando home office, jogos de futebol e beisebol alterados, Tokyo Disney e Universal Studios Japan temporariamente fechados, shows e eventos como Anime Japan e Tokyo Fashion Week foram cancelados de última hora. A vida parece em suspenso, em suspense.

O clima de incerteza se agrava com as declarações desencontradas das autoridades olímpicas. Seiko Hashimoto, ministra de Tóquio-2020, acenou a possibilidade de adiamento dos Jogos. Dick Pound, integrante canadense do Comitê Olímpico Internacional, idem. A cada deslize, o comitê martela o compromisso de sediar o torneio nas datas marcadas, 24 de julho para a Olimpíada, 25 de agosto, a Paraolimpíada.

“Isso quer dizer que a competição mais celebrada do mundo, mais ansiada pelos atletas e de maior visibilidade planetária corre o risco de ser desfigurada por uma força microscópica, destituída de consciência ou intenção. Que mundo curioso esse onde os extremos se testam em seus pontos mais fracos”, escreveu a colunista Katia Rubio nesta Folha.

Tradicionais festivais de hanami, como os de Tóquio e Osaka, foram cancelados (Kazuend/Unsplash)
Época das cerejeiras simboliza recomeços no Japão (Kazuend/Unsplash)

Não é só a Olimpíada, o glorioso encontro esportivo que simboliza a paz entre as nações, que corre o risco de ser desfigurada no Japão. É o dia a dia, a ida ao colégio ou ao mercado, o trivial que se tornou incerto, imprevisível – como as cerejeiras, maior símbolo da efemeridade deste lado do mundo.

“As sakuras também ensinam sobre a imprevisibilidade da vida. As flores de cerejeira desabrocham uma vez por ano, na primavera, e dura apenas uma semana. Os botões que se abrem vão do branco a várias tonalidades de rosa. O vento faz com que as pétalas voem pelo ar, formando uma espécie de neblina rosada; sob essa chuva, pisa-se sobre um chão que me faz lembrar de carnavais passados — o confete produzido pela própria natureza”, descreveu a jornalista Paula Carvalho, na revista Quatro cinco um.

Apesar da simbologia sublime das sakuras, os ares poéticos colidem com o vírus da vez. Também associadas a recomeços, já que surgem na época de início do ano letivo e do ano fiscal japonês (1º de abril), as flores encontram um calendário confuso neste ano.

“O hanami de 2020 ainda vai acontecer?!”, indaga-se aflitivamente em diversos posts na internet. Sim: com ou sem luzes festivas, as flores estarão lá para pura e simples contemplação. Elas sempre colorem o país nessa época, mesmo que tudo ao redor esteja desmoronando. Festivais foram cancelados; a primavera, não.

No filme “The Tsunami and the Cherry Blossom” (2011), indicado ao Oscar de melhor documentário em curta-metragem, um dos sobreviventes da onda gigante que atingiu Fukushima observa as árvores que floresceram pouco tempo depois da catástrofe. “Se as flores estão se aguentando, nós também precisamos aguentar”, diz.

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Isto não é um símbolo nazista https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/20/isto-nao-e-um-simbolo-nazista/#respond Thu, 20 Feb 2020 08:00:43 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/2460877397_eb0a8768da_c-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=31 De Toyohashi (Japão)

Aviso aos navegantes: isto não é um símbolo nazista.

“Manji” (卍) é a suástica japonesa budista, um símbolo de sorte e paz, presente em diversas cidades deste lado do mundo. É inclusive o ícone para sinalizar templos budistas nos mapas do Japão, onde há mais de 45 milhões de adeptos e 75 mil templos, santuários e outras organizações budistas.

Suástica vem do sânscrito “svtika”, que quer dizer busca de bem-estar. A cruz gamada marcou diversas culturas, dos antigos gregos aos astecas, muito antes de ser “sequestrada” pelos nazistas – um dos registros mais antigos data do século 7 a.C., uma peça de cerâmica descoberta no Oriente Médio, atualmente exposta no Museu do Louvre, na França.

Já a versão virada 45 graus à direita, a cruz negra dentro de um disco branco e um fundo vermelho, foi estilizada como emblema oficial do 3o Reich de Adolf Hitler, na década de 1930. A insígnia “Hakenkreuz” ficou tão marcada, historicamente associada às barbaridades nazistas, que hoje é proibida por lei em diversos países. No Brasil, fabricar, distribuir ou divulgar o distintivo como apologia ao nazismo é crime e pode render até cinco anos de prisão.

Enquanto a suástica nazista se tornou símbolo de ódio, a suástica budista é paz e amor. Em 2016, entretanto, autoridades japonesas fizeram uma consulta pública à sociedade sobre a possibilidade de riscar o “manji” dos mapas turísticos, substituindo-o por uma ilustração de pagode (um estilo de templo) para não provocar confusões ou ferir a sensibilidade de visitantes desavisados durante os Jogos de Tóquio-2020.

Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)
Sinalização de templos nos arredores de Tóquio (Google Maps/Reprodução)

Na época foram mobilizadas campanhas pró-manji na internet. “É um símbolo sagrado no hinduísmo e no budismo. Está aí há milhares de anos, enquanto a ‘Hakenkreuz’ existe há menos de 100. Dar prioridade ao símbolo associado ao nazismo e à supremacia branca, ao decidir se o manji’ japonês deve ficar ou não, é absurdo e desrespeitoso”, dizia um dos abaixo-assinados digitais.

“Antes da chegada dos visitantes e das primeiras minicrises de ‘por que tem uma suástica no templo?!’ dos turistas, vamos informar. Poste artigos sobre o assunto, compartilhe petições, use esses e outros recursos para iniciar conversas. Para o bem da herança cultural do Japão e de seus visitantes, espalhe a palavra”, registrou à época a escritora canadense Helen Langford-Matsui, radicada na província de Kanagawa, no jornal Japan Times.

Após a consulta, martelou-se: a suástica budista fica. Presente em ruas, templos, monumentos, estações e cemitérios, o ícone continua a ilustrar mapas turísticos e Google Maps. Aos marinheiros de primeira viagem, portanto, não custa lembrar: isto 卍 não é um símbolo nazista.

Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
Estátua com suástica budista em um cemitério na cidade de Toyohashi (Juliana Sayuri)
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Japanglish, um ‘dialeto’ para quem se aventura pelo Japão https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/japanglish-um-dialeto-para-quem-se-aventura-pelo-japao/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/japanglish-um-dialeto-para-quem-se-aventura-pelo-japao/#respond Tue, 11 Feb 2020 22:40:15 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/img_8462-300x215.png https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=36 De Toyohashi (Japão)

Japonês não é simples. Com três alfabetos (hiragana, katakana e kanji) e uma estrutura bastante diferente da língua portuguesa, o “nihongo” dificilmente é aprendido assim, do dia para a noite. Não dominar o idioma inteiramente, entretanto, não é empecilho para quem pretende se aventurar no país pela primeira vez.

Na capital Tóquio, que espera receber 40 milhões de visitantes estrangeiros por conta da Olimpíada, o acesso a pontos turísticos não é difícil – é possível visitar os principais a partir do metrô, sem arriscar uma palavra de japonês.

Em outras cidades, onde talvez não haja transcrições em letras romanas (o “romaji”) nas estações de trens ou sinalizações de trânsito, a situação é um pouco mais complicada. Um tradutor do Google pode salvar o dia.

Google, no Japão, se pronuncia “Guguru”. Este é um dos exemplos de “Japanglish”, um neologismo para indicar a fusão das línguas japonesa e inglesa. Também é lembrado como “Wasei Eigo”, um tipo de inglês “made in Japan”.

Palavras estrangeiras são adaptadas e pronunciadas com um singular sotaque no arquipélago asiático, devido à estrutura fonética da língua japonesa, que não inclui os sons das letras L e V, por exemplo. Assim, hotel se diz “hoteru” e “convenience store” (loja de conveniência, presente praticamente a cada esquina no país), “konbini”. Bolsonaro vira “Borusonaro”.

Eis outros dez exemplos de palavras derivadas do inglês na pronúncia nipônica, que podem ser úteis para quem pretende visitar o país durante a Olimpíada:

  1. Bus (ônibus): basu
  2. Beer (cerveja): biru
  3. Coffee (café): kohi
  4. Taxi (táxi): takushi
  5. Baseball (beisebol): besuboru
  6. Basketball (basquete): basukettoboru
  7. Boxing (boxe): bokushingu
  8. Rugby (rúgbi): ragubi
  9. Soccer/football (futebol): sakkā ou futtobōru
  10. Volleyball (vôlei): bareboru

Muitas dessas expressões foram destacadas na música “Tokyo Bon 2020 (Makudonarudo)”, que viralizou e teve mais de 70 milhões de visualizações desde seu lançamento, em fins de 2017.

Além de Google, outras marcas estrangeiras também são “adaptadas” aqui, como ilustra o vídeo: Makudonarudo (McDonald’s), Kitto Katto (Kit Kat) e Sutabakkusu (Starbucks).

Protagonizado pelo rapper malaio-chinês Namewee e pela atriz japonesa Meu Ninomiya, com ritmo pop e dança típica Bon Odori, o clipe retrata justamente um estrangeiro perdido e pedindo informações nos principais pontos turísticos da capital japonesa.

O número 2020, presente no título da música, é referência direta aos Jogos Olímpicos –aliás, Orinpikku Kyōgi Taikai.

(Imagem no alto: Frame do clipe “Tokyo Bon 2020 (Makudonarudo)”, do músico Namewee (YouTube/Reprodução)

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Vai ter Olimpíada, diz comitê após rumores relacionados ao coronavírus https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/vai-ter-olimpiada/ https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/vai-ter-olimpiada/#respond Thu, 06 Feb 2020 19:00:28 +0000 https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/1280px-New_national_stadium_tokyo_1-300x215.jpg https://nipolimpiada.blogfolha.uol.com.br/?p=13 De Toyohashi (Japão)

A 169 dias dos Jogos de Tóquio-2020, de 24 de julho a 9 de agosto, organizadores e autoridades asseguraram a continuidade do calendário e afastaram rumores de adiamento ou cancelamento da Olimpíada na capital japonesa por conta do surto de coronavírus.

Desde janeiro, já são mais de 28 mil infectados pelo vírus 2019-nCoV em 26 países –o número de mortos está na casa dos 560. A 2.500 km de distância da cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto, 35 casos foram confirmados no território japonês até a manhã desta quinta-feira (6). Nenhuma morte.

“Tóquio 2020 continuará a colaborar com o Comitê Olímpico Internacional e organizações relevantes e vai revisar quaisquer medidas que possam ser necessárias”, declararam os organizadores, em nota à agência Associated Press. Diante do parlamento japonês na segunda-feira (2), o primeiro-ministro Shinzo Abe “jurou garantir” que o novo vírus não inviabilize a Olimpíada.

Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador da Olimpíada, em cerimônia no dia 29 de janeiro na Vila dos Atletas, em Tóquio (Tokyo 2020/Divulgação)
Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador da Olimpíada, na Vila dos Atletas (Tokyo 2020/Divulgação)

As declarações tentam tranquilizar ânimos aqui no Japão, onde viralizou a hashtag #TokyoOlympicsCancelled no Twitter, após um blog pop japonês insinuar que, se estão ocorrendo reuniões entre Comitê Olímpico Internacional e Organização Mundial da Saúde, o futuro dos jogos estaria em risco.

O diretor executivo Toshiro Muto também negou a possibilidade de transferir os Jogos a outro país, mas admitiu estar “terrivelmente preocupado” com o impacto do surto.

Até agora, diversos eventos esportivos, entre eles etapas classificatórias para a Olimpíada, foram cancelados, adiados ou alterados para sair da China. Nos últimos dias, organizadores japoneses também desmarcaram uma viagem a Pequim para discutir os próximos Jogos Olímpicos de Inverno, que devem acontecer na capital chinesa em 2022.

Rio 2016 passa bandeira olímpica para Tóquio 2020, no Maracanã (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Rio 2016 passa bandeira olímpica para Tóquio 2020 (Fernando Frazão/Agência Brasil/2016)

Não é a primeira vez que um vírus alarma a realização de um megaevento esportivo: o surto da zika lançou dúvidas, mas no fim não abalou os Jogos do Rio 2016; já o surto de Sars obrigou organizadores a mudar o mundial de futebol feminino de 2003 na última hora, deslocando os jogos da China para os Estados Unidos a três meses do início do torneio.

No domingo, a governadora Yuriko Koike prometeu diretrizes “rigorosas” para conter o novo vírus pré-Jogos de Tóquio, mas não divulgou detalhes. “Lavem as mãos e usem máscaras”, orientou Koike, na inauguração da Arena Ariake, ginásio que receberá jogos de vôlei e partidas paraolímpicas de basquete na capital japonesa.

Deste lado do mundo, o uso de máscaras cirúrgicas é comum o ano todo, independentemente da época e inclusive como acessório “fashion”. Diante da epidemia, o produto está esgotando diariamente nos mercados –e a indústria está a todo vapor para repor estoques.

Enquanto escrevia este post, num café Starbucks na cidade de Toyohashi, a cerca de 230 km de Tóquio, todos ao meu redor usavam máscara e esfregavam freneticamente as mãos com álcool gel.

“Irashaimase!”, dizia alto a simpática atendente do café, a cada vez que a porta se abria, ajeitando a máscara para cobrir o rosto quase inteiramente e passando álcool até o pulso a cada cliente atendido no balcão. A cena deve se repetir ao longo desta Olimpíada: a expressão quer dizer “bem-vindo”.

Torre de Tóquio iluminada durante disputa para sediar Olimpíada de 2020 (Foto: Wikimedia/2013)
Torre de Tóquio iluminada durante disputa para sediar Olimpíada de 2020 (Foto: Wikimedia/2013)

 

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